As investigações sobre o incêndio no avião da Total Cargo, ocorrido no mês passado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, apontam para Fabiano da Silva Santos, presidente dos Correios, como peça central no caso. Documentos obtidos pela reportagem mostram que Santos teria autorizado, por meio de despacho, o transporte aéreo de baterias de lítio — uma carga considerada perigosa e cujo envio por vias aéreas está proibido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) desde 2016.
Os registros indicam que Santos não apenas liberou o transporte, mas também prorrogou a autorização antes de revogá-la, três dias após o incêndio. A decisão contraria diretrizes da Anac, que permite apenas o envio de “malas postais sigilosas” pelos Correios. Em nota, a agência informou estar apurando possíveis violações às regras.
A investigação busca esclarecer se a decisão de liberar o transporte foi influenciada por interesses pessoais ou por solicitações de clientes próximos ao presidente dos Correios. O caso também ganhou destaque na Câmara dos Deputados, onde parlamentares pressionam por mais explicações. O deputado Evair de Melo (PP-ES) já protocolou pedidos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e de convocação de ministros para debater o episódio, que ele classificou como “muito suspeito”.
Em sua defesa, os Correios alegaram que a decisão de transportar as baterias teve como base parecer da Diretoria de Negócios e que práticas similares começaram em gestões anteriores. A estatal afirma estar colaborando com as investigações, mas evitou comentar sobre a possível responsabilidade de Santos no incidente.
O episódio reacendeu o debate sobre segurança no transporte de cargas perigosas. Baterias de lítio são altamente inflamáveis e, em contato com altas temperaturas, podem causar incêndios ou explosões. Desde a proibição de 2016, a Anac reforçou os protocolos de segurança para evitar incidentes semelhantes, tornando o despacho autorizado por Santos ainda mais questionável.
O desenrolar das investigações poderá trazer à tona novas informações e implicações políticas, enquanto autoridades trabalham para apurar as responsabilidades e garantir que a segurança do transporte aéreo seja mantida.