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Cidades de SP ‘caçam’ atrasados da 2ª dose com carro de som e até telegrama
Coronavírus
Publicado em 24/08/2021

Com a maior parte do dia dedicada a cuidar de duas crianças, a babá Janice Pereira, de 51 anos, esqueceu de tomar a segunda dose contra a Covid-19 e só se deu conta depois que uma agente comunitária ligou para avisar do atraso. Uma equipe de saúde foi até a residência onde ela trabalha, em uma vila do Bom Retiro. “Eles foram nota 10. Já pensou se eu fico sem tomar a minha vacina?”

 

Diabética e hipertensa, Janice havia recebido a primeira dose em maio e deveria ter retornado ao posto de vacinação em meados deste mês. Perdeu o prazo por poucos dias. “Eu estava com uma data na cabeça e era outra”, justifica. “A segunda dose dá um alívio: olha o quanto de gente que já morreu.”

 

A busca ativa realizada pelas prefeituras é a principal ferramenta para reduzir o índice de faltas em campanhas de vacinação. Na maioria dos casos, tentar contato por telefone ou bater na casa das pessoas são as estratégias mais comuns. Com a pandemia, municípios paulistas também têm recorrido a mutirões de repescagem, carros de som e disparos de mensagem por e-mail, WhatsApp, campanhas em redes sociais ou até mesmo telegrama de acordo com consulta feita pelo Estadão a 34 municípios paulistas.

 

Dados da Secretaria Estadual da Saúde apontam que mais de 4 milhões já completaram o ciclo de imunização em São Paulo. Em contrapartida, o Estado registrava um total de 1,2 milhão de faltosos nas 645 cidades até a última sexta-feira.

 

Encontrar, convencer e conseguir vacinar os faltosos se torna prioridade conforme a imunização geral avança. O risco do espalhamento da variante Delta, mais transmissível, também preocupa. O Estadão acompanhou o trabalho de uma das equipes de saúde na capital na tarde de quinta-feira, dia 19.

 

Medo de reação vacinal, desinformação sobre a necessidade do reforço e fatores sociais, como falta de horário por causa do trabalho, são outros motivos citados para que as pessoas deixem de comparecer. E há situações em que as pessoas acabaram infectadas – e, portanto, têm de adiar o reforço – ou estão acamadas.

 

 

Há 13 anos no Sistema Único de Saúde (SUS), a agente comunitária Fernanda Oliveira, de 36, foi a responsável por localizar Janice e alertá-la do atraso. Por conhecer o território, as famílias e a realidade local, a função do agente é considerada indispensável nesse trabalho.

 

Segundo afirma, Fernanda tem se deparado cada vez menos com pessoas resistentes à vacinação. “Acontecia mais no começo, hoje é um ou outro. A gente busca orientar. Sempre dou exemplo de pessoas famosas que pegaram covid.”

 

Para ela e outros profissionais da área, a maior aceitação da vacina nas últimas semanas pode estar relacionada ao avanço de diagnósticos e mortes por coronavírus. No Estado, são mais de 144 mil óbitos desde o início da crise sanitária. “Tive o caso de uma idosa de 100 anos que tivemos de ir vacinar na casa dela, porque havia fraturado a bacia”, relata a agente. “O filho não acreditava na doença, evitava máscara e acabou pegando covid. Ele foi intubado e veio a falecer depois.”

 

Já o técnico de enfermagem Jonas Mendes, de 48 anos, se vale do próprio exemplo no contato com as pessoas. “Tive covid, perdi 9 quilos e fiquei internado por 22 dias. O que digo é: ‘Amigo, fui lá em cima e felizmente consegui voltar. Sou a prova viva de que a doença é muito séria’”, conta. “Usar um caso que aconteceu comigo mesmo facilita que o outro tenha empatia.”

Estadao Conteúdo

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