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Brasil tem a terceira maior diferença entre parcialmente e totalmente imunizados contra Covid
Coronavírus
Publicado em 28/08/2021

O Brasil começa a se preparar para aplicar a terceira dose das vacinas contra a Covid numa situação inusitada: está num grupo intermediário de cobertura vacinal considerando a população com ao menos uma dose, mas possui baixa cobertura daqueles com imunização completa.

 

O país já chegou a 62% da população imunizada com ao menos uma dose, percentual que é até maior do que os 60% dos Estados Unidos. Mas possui apenas 28% com imunização completa, ante 51% dos americanos (números de quinta-feira, 26).

 

Entre os 130 países com dados disponíveis, apenas dois têm um abismo tão grande entre quem tomou a primeira dose e quem está totalmente imunizado (Costa Rica e Taiwan).

 

A diferença no Brasil é de 34,3 pontos percentuais entre os dois grupos; Costa Rica é de 39,4 pontos; e Taiwan, de 37,1.

 

O Brasil é o 22º com a maior proporção de vacinados com ao menos uma dose, mas o 48º considerando a imunização completa.

 

Quase 70 milhões de brasileiros começaram, mas ainda não completaram o esquema vacinal, de acordo com dados coletados pelo consórcio de veículos de imprensa.

 

 

Estudos mostram que a primeira dose traz alguma proteção contra a doença, embora a efetividade possa variar bastante de acordo com o fabricante. A segunda dose, porém, é fundamental para elevar a imunidade a patamares mais seguros e promovê-la por períodos mais longos.

 

Levantamentos recentes mostram que esse fenômeno ficou ainda mais evidente com a variante delta —a primeira dose perdeu boa parte da proteção esperada contra a mutação, mas a perda após a segunda é mais discreta.

 

Nações como Dinamarca, Alemanha, Canadá, Chile, Israel, Hungria e Estados Unidos já iniciaram ou iniciarão em breve o programa de aplicação das doses extras de reforço, seja nos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos, ou em grupos mais amplos.

 

Todos eles, porém, têm pelo menos metade da população totalmente imunizada (vacinada com a segunda dose ou com a vacina de dose única). Mesmo países que iniciaram a vacinação quase ao mesmo tempo ou depois do Brasil, como Japão, Jordânia e Colômbia, já têm fatias maiores dos habitantes com o esquema completo.

 

Apesar de defenderem que a terceira dose seja importante, especialmente para públicos específicos como imunodeprimidos e idosos acima dos 80 anos, epidemiologistas ouvidos pela reportagem afirmaram que garantir a aplicação da segunda dose para a população também deve ser uma prioridade.

 

Há duas maneiras de acelerar esse processo: com mais busca ativa aos que já podem, mas ainda não tomaram a segunda dose, e encurtar o intervalo entre as aplicações das doses. Esta segunda opção tem começado a tomar forma no país.

 

Os especialistas apontam também dois motivos para que a imunização completa esteja desproporcionalmente lenta no Brasil: o fato de que um contingente grande não volta para tomar a segunda dose (são mais de um milhão de faltosos só no estado de São Paulo) e o tempo longo de intervalo entre as aplicações para quem toma Astrazeneca ou Pfizer.

 

Ambas têm um período de 12 semanas de espaçamento entre as duas doses, embora alguns estados tenham recentemente reduzido esse tempo para 10 ou 8 semanas.

 

No caso da Pfizer, a fabricante recomenda que a espera seja de 4 semanas. Seguindo estratégia do Reino Unido, o Brasil adotou um período maior para poder imunizar mais pessoas com a primeira dose, uma vez que há escassez de imunizantes. A explicação foi que estudos indicam que a primeira dose já confere alguma imunidade contra o coronavírus, embora menor que no esquema completo.

 

Epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry afirma que a decisão de espaçar as doses para ampliar rapidamente a fatia da população parcialmente imunizada foi correta.

 

“Antes da delta, estávamos com indicadores todos diminuindo: casos, hospitalizações, internações em UTIs e óbitos. Essa queda se deve certamente à vacinação. O problema de termos agora uma nova variante é o risco de novos picos”, diz.

 

A experiência em outros países, especialmente em Israel, acendeu o alerta para uma possível vulnerabilidade dos idosos, que têm o sistema imunológico menos eficiente que os mais jovens. Por isso, a vacina pode ter eficácia menor para eles, que já são um grupo mais propenso a complicações da Covid.

 

Israel, que comemorava o sucesso da campanha de vacinação, viu o número de casos e mortes voltar a crescer com a chegada da variante delta, com maior impacto para os idosos. Com isso, passou a aplicar uma terceira dose para reforço.

 

Há indícios de que esse efeito possa acontecer no Brasil, embora ainda haja poucos dados disponíveis. O governo do Rio de Janeiro afirmou que houve alta de internações entre idosos vacinados, e boletim recente da Fiocruz indica que a atual tendência de queda de casos e mortes pode se reverter muito em breve.

 

A instituição também elaborou estudo que mostra que a eficácia da vacinação é menor em quem tem 80 anos ou mais, especialmente no caso da Coronavac. A queda na proteção é ainda maior para quem tem 90 anos ou mais.

 

Para a epidemiologista Ligia Kerr, membro da câmara técnica do Programa Nacional de Imunização e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, os resultados reforçam a necessidade de uma dose extra nos mais idosos.

 

“Foram os grupos que primeiro foram vacinados. A gente sabe que, no caso da Covid, a resposta imunológica pela infecção cai com o tempo, e o mesmo acontece com a vacinação”, afirma.

 

Isso não significa, porém, que a segunda dose possa ficar para depois. “O percentual de brasileiros com as duas doses é baixo para enfrentar a delta. Temos de correr com as vacinas, e vale lembrar que o uso de máscaras é absolutamente fundamental, além de manter o distanciamento. Essa cepa possui carga viral extremamente elevada.”

 

André Giglio Bueno, infectologista, professor da PUC-Campinas e curador da plataforma HubCovid, diz que o cenário agora é diferente do início da campanha de vacinação, quando havia grande escassez de doses.

 

Se o cronograma de entrega de vacinas for cumprido, ele diz, será possível associar a conclusão do esquema vacinal da população com a administração da dose de reforço nos idosos e imunodeprimidos.

 

“Até por questão de priorização, não vão ser todos os idosos que receberão a terceira dose neste primeiro momento, mas os com 70 anos ou mais. Mesmo os imunossuprimidos são um grupo restrito. O principal objetivo é reduzir hospitalizações e óbitos, e a decisão foi acertada”, afirma.

 

Junto com o anúncio da dose extra, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o intervalo entre doses das vacinas Astrazeneca e Pfizer seria reduzido para 8 semanas.

 

Ele disse que isso seria possível a partir de setembro, quando toda a população adulta já estaria apta a receber a primeira dose. Até esta quinta, 82% dos brasileiros com 18 anos ou mais haviam recebido ao menos uma injeção.

 

A estratégia de adiantar a segunda dose foi adotada em outros países. Na Alemanha, por exemplo, o intervalo é menor nos casos em que a segunda dose é de um fabricante diferente do da primeira —mistura que, sugere a experiência, pode ampliar a imunidade à Covid.

 

Petry, da UFRS, concorda com a necessidade de antecipar a segunda dose diante da ameaça da delta. Ele, porém, não está tão seguro que o número de vacinas no país esteja confortável e lembra que ainda há uma parcela que não recebeu nem mesmo a primeira dose —26% dos que têm 12 anos ou mais, população alvo da campanha no momento.

 

“A delta é bastante transmissível, convém diminuir [o intervalo entre doses]. Claro que aí teremos mais pessoas com imunidade completa, mas por outro lado teremos menos primeiras doses. Há ainda o reforço para os mais idosos, as pessoas imunodeprimidas e, na minha opinião, também seria necessário para profissionais de saúde, que tomaram a segunda dose em março. É um quebra-cabeça.”

 

Há diferenças significativas entre os estados brasileiros. Enquanto 35% dos paulistas receberam as duas doses ou a vacina de dose única, há menos de 15% dos amapaenses nessa situação.

 

Já o Distrito Federal tem o maior hiato entre a população com ao menos uma dose e a totalmente imunizada (41% dos habitantes têm apenas a proteção parcial).

FolhaPress

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