Poucas horas após o resultados das eleições presidenciais no domingo, que deu a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma vantagem de 48% a 43% dos votos sobre Jair Bolsonaro (PL) — uma diferença de cerca de seis milhões de votos —, as duas campanhas iniciaram a corrida pelos apoios no segundo turno. O presidente está perto de conseguir uma adesão importante: a de Romeu Zema (Novo), governados reeleito em primeiro turno de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, onde Bolsonaro ficou atrás de Lula e cujo resultado eleitoral costuma espelhar o do país. Do outro lado, o PT mira primeiramente os terceiro e quarto colocados da corrida presidencial. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que já abriu conversas com o PDT e buscará o MDB, legendas de Ciro Gomes e Simone Tebet, principais derrotados desta eleição. Ciro seguirá o que seu partido decidir, e uma reunião da executiva hoje pode selar a adesão à campanha petista.
Além deles, o PSDB é outro partido na mira de Lula. Ontem, Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, que forma uma federação com os tucanos, defendeu ontem apoio ao ex-presidente. Caberá ao candidato a vice da chapa, o ex-tucano Geraldo Alckmin, reforçar essa interlocução com o PSDB. Já no domingo ele ele enviou mensagens a Bruno Araújo, presidente do PSDB, e a Eduardo Leite (PSDB-RS), ex-governador do Rio Grande do Sul que foi para o segundo turno contra Onyx Lorenzoni (PL-RS). Alckmin já havia iniciado diálogo com uma série de prefeitos paulistas do PSDB, mirando possíveis apoios no segundo turno. Essa ofensiva será intensificada a partir de agora.
— Nós já tivemos contato com o presidente do PDT (Carlos Lupi). Senti muita disposição em conversar. Dissemos a ele que gostaríamos muito de ter o Ciro Gomes — declarou Gleisi.
Ciro fará o que o PDT decidir, segundo a assessoria de imprensa do próprio pedetista. O GLOBO apurou que a tendência é que a sigla formalize ainda hoje a aliança com o petista, após a reunião da Executiva da sigla.
Apesar dos embates entre Ciro e Lula durante a campanha, apurou a reportagem, o agora ex-presidenciável considera necessária uma unificação do PDT, que saiu enfraquecido da eleição. A legenda perdeu duas cadeiras na Câmara, saindo de 19 para 17 deputados, não conseguiu eleger nenhum de seus candidatos aos governos estaduais.
Já Soraya Thronicke (União) descartou de pronto negociar seu apoio ao afirma ontem nas redes sociais que “nenhum desses bandidos merece o meu apoio”.
No PSDB, no entanto, há resistência no apoio a Lula, já que candidatos da sigla que disputam o segundo turno se alinharam ao bolsonarismo, caso do candidato Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul, e do ex-deputado Pedro Cunha Lima, na Paraíba.
Zema rejeita o PT
Bolsonaro começou cedo ontem as conversas com aliados para traçar estratégias em busca de apoio e decidiu mirar, além de Minas, no Rio e em São Paulo, que, juntos, são os estados que concentram o maior número de eleitores. Nos dois primeiros principalmente, eles uma gordura de potenciais eleitores para Bolsonaro conquistar, comparando as votações dos governadores reeleitos com a do atual titular do Planalto.
Zema, que deve oficializar o apoio a Bolsonaro até amanhã, disse em entrevista ontem à Globonews que as conversas com o PL já estão avançadas. Apesar de não ter dado palanque a Bolsonaro no primeiro turno, a reaproximação entre o governador e o presidente, que estiveram juntos em 2018, já era esperada. À TV Globo de Minas, Zema
Mais cedo, Zema também deu entrevista à TV Globo de Minas, e descartou qualquer possibilidade de apoiar o PT, embora tenha angariado votos de apoiadores do ex-mandatário.
— Eu já adiantei que apoiar o PT é impossível.
No Rio, o governador Cláudio Castro, do mesmo partido de Bolsonaro, se comprometeu a mergulhar na campanha de reeleição. Ele irá hoje a Brasília para uma reunião com o presidente. E em São Paulo, Bolsonaro pegará carona na disputa nacional que é reproduzida no estado com o segundo turno entre o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT). Aliados não descartam uma conversa com o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que terminou a disputa em terceiro lugar.
Bolsonaro também sonha o apoio de ACM Neto, do União Brasil, na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país. O ex-presidente de Salvador, que liderava a pesquisa, perdeu o favoritismo e terminou em segundo lugar, atrás do petista Jerônimo Rodrigues.
Além disso, há a expectativa que o União Brasil, de modo geral em princípio, se engaje por Bolsonaro. No Mato Grosso, o governador reeleito Mauro Mendes já e aliado do presidente. Em Goiás, Ronaldo Caiado, que também foi reconduzido a um segundo mandato, era próximo do presidente, mas teve um afastamento por divergências na condução da pandemia da Covid-19. O entorno presidencial aposta em uma reconciliação.
Aliados do presidente não descartam que este movimento possa atrair um apoio nacional do União Brasil para Bolsonaro. A legenda é presidida pelo deputado federal Luciano Bivar (PE), que comandava o PSL quando Bolsonaro se elegeu ao Planalto em 2018. Os dois romperam no ano seguinte e até aqui Bivar tem resistindo às investidas do grupo bolsonarista. O vice-presidente da silga, Antonio de Rueda, porém, nunca deixou de dialogar com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha.
Considerando todos os estados, Bolsonaro leva vantagem sobre Lula (PT) entre o número de governadores aliados — já eleitos ou os que lideram disputas locais: o presidente é apoiado por pelo menos sete eleitos; o petista tem o apoio de quatro. Onde ainda haverá segundo turno, ambos reúnem, cada um, apoios de seis candidatos que apareceram na liderança após a apuração de domingo.
Deputado mais votado pelo Paraná, o ex- procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol (Podemos) declarou apoio à candidatura de Bolsonaro à reeleição. Em vídeo publicado nas redes sociais, disse que faria oposição à candidatura de Lula: “Nós precisamos unir o centro e a direita no Congresso em torno do combate à corrupção”.
O presidente ganhou ainda o apoio do nanico PSC. Já o partido Novo divulgou nota reforçando “seu posicionamento institucional histórico, totalmente contrário ao PT, ao lulismo e a tudo o que eles representam” e liberando seus “filiados, dirigentes e mandatários, para declararem seus votos e manifestarem seu apoio de acordo com sua consciência e com os valores e princípios partidários”.