Quase metade dos brasileiros com idade para votar rejeita aquele que será o presidente do Brasil pelos próximos quatro anos. Desde a redemocratização, só uma vez os dois candidatos que disputaram o segundo turno da eleição presidencial tiveram taxas de rejeição tão elevadas como as de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com a pesquisa divulgada na semana passada pelo Datafolha, 50% dos eleitores se negam a votar no candidato à reeleição e 46% dizem não votar de jeito nenhum no petista. Em 2018, eram 41% os que rechaçavam Bolsonaro e 54% os que tinham ojeriza a Fernando Haddad (PT) faltando poucos dias para o segundo turno.
O levantamento do Pulso considera as taxas de rejeição aferidas pelo Datafolha para todos os candidatos que disputaram segundo turno de uma eleição presidencial desde 1989. No período, só duas vezes não foi necessária uma segunda rodada de votação, nas eleições de Fernando Henrique (PSDB) em 1994 e 1998. Para as disputas de 1989 e 2002, o Datafolha só mensurou a rejeição aos candidatos ainda antes do primeiro turno. Os dados foram consultados a partir do sistema do Centro de Estudos e Opinião Pública (Cesop) da Unicamp.
Dilma Rousseff (PT), em 2014, foi a única a conseguir ser eleita derrotando um adversário menos rejeitado no segundo turno. A então candidata à reeleição tinha o voto negado por 43% no início da campanha para a segunda votação, contra 34% de Aécio Neves (PSDB). Acabou vitoriosa com 2,9 milhões de votos a mais que o tucano.
A taxa de rejeição impõe um teto para a votação dos candidatos, representando uma arma para seus adversários. De olho nesse indicador, tanto Lula quanto Bolsonaro ampliaram os ataques na TV e nas redes sociais para a disputa do segundo turno.
O atual presidente, que já chamou Lula de “pinguço” e de “ladrão” nas últimas semanas, tem exibido na televisão propagandas em que mostra ex-aliados do petista presos e também supostas declarações de apoio de criminosos comuns ao ex-presidente. Lula, por sua vez, já associou Bolsonaro a práticas de canibalismo e levou para a TV trecho de entrevista em que o candidato do PL diz já ter pensado em abortar um de seus filhos.
Em análise para o Pulso, o jornalista Thomas Traumann avalia que, faltando poucas semanas para a votação do dia 30 e com muitos eleitores já decididos em quem votar, Bolsonaro tende a apostar ainda mais alto na propaganda negativa contra Lula.
“Os ataques de Bolsonaro podem até não convencer um novo eleitor, mas, ao transformar a eleição num vale-tudo, eles igualam os dois candidatos em suas rejeições e tornam o resultado mais imprevisível” escreveu Traumann.
O levantamento mais recente de outro instituto de pesquisas, o Ipec, mostrou nesta semana que a estratégia do candidato à reeleição pode estar funcionando. A rejeição ao presidente oscilou de 50% para 48% em cinco dias, enquanto a taxa dos que rechaçam Lula variou em sentido oposto, passando de 40% para 42%.