Executivos da Âmbar Energia, pertencente ao grupo J&F, tiveram 17 reuniões não registradas na agenda oficial do Ministério de Minas e Energia antes da edição de uma medida provisória que favoreceu a empresa, conforme revelou o Estadão em resposta a um pedido via Lei de Acesso à Informação feito pelo partido Novo.
Segundo o jornal, esses encontros ocorreram entre junho de 2023 e maio de 2024, envolvendo o ministro Alexandre Silveira, o secretário-executivo Arthur Cerqueira, o secretário nacional de Energia Elétrica Gentil Nogueira, e o ex-secretário-executivo Efrain Cruz.
“A última reunião foi entre o ministro Silveira e o presidente da Âmbar, Marcelo Zanatta, no dia 29 de maio, uma semana antes da medida provisória ser enviada à Casa Civil. O chefe da pasta também recebeu o executivo no dia 21 de maio. Nenhum desses encontros aparece na agenda oficial de Alexandre Silveira”, informou o Estadão.
Marcelo Zanatta visitou o Ministério de Minas e Energia 13 vezes em menos de um ano, enquanto Cristiano Souza, diretor de Estratégia, Inteligência de Mercado e Regulatório da Âmbar, esteve lá em quatro ocasiões.
Em 13 de junho, o governo Lula publicou uma medida provisória para socorrer a Amazonas Energia, uma distribuidora de energia elétrica do estado do Amazonas, que enfrenta dificuldades financeiras e está inadimplente com termelétricas fornecedoras. A medida também beneficia as termelétricas recentemente adquiridas pela Âmbar. Os custos desse auxílio, sugerido pelo ministro Alexandre Silveira em 7 de junho, serão repassados aos consumidores brasileiros na conta de luz.
A medida prevê que os consumidores pagarão esse socorro financeiro por até 15 anos, com custos variando entre R$ 2 bilhões e R$ 2,7 bilhões por ano, podendo superar R$ 30 bilhões ao final do período. O Estadão ressaltou que, após a publicação da medida provisória, Silveira afirmou que a coincidência de beneficiar os irmãos Batista foi “mera coincidência”. Questionado na Câmara, o ministro citou José Alencar: “Eu aprendi com o ex-vice-presidente José Alencar que não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace o rato”.
O Ministério de Minas e Energia afirmou ao jornal que a medida provisória não foi discutida com a Âmbar e não detalhou o teor das reuniões. “É importante esclarecer que o registro da entrada de pessoas nas dependências deste ministério não significa, necessariamente, que todas foram, de fato, recebidas pelas autoridades públicas, seja por falta de um agendamento prévio, seja por conflito de agendas”, justificou o ministério.
A Âmbar também não revelou o objetivo das visitas ao Ministério de Minas e Energia. “São descabidas especulações a respeito da Medida Provisória 1.232 e o negócio realizado pela Âmbar. Não fazem sentido técnico e econômico por diversos fatores. A Âmbar nunca tratou do tema com o Ministério de Minas e Energia”, afirmou a empresa em nota.
Dúvidas permanecem sobre as razões das 17 visitas dos executivos da Âmbar ao ministério, sem detalhamento dos motivos ou registros formais das reuniões, dificultando a credibilidade das alegações de coincidência.