O mercado de apostas no Brasil movimentou significativamente mais do que o previsto em 2024, segundo dados do Banco Central. De janeiro a agosto, o volume bruto de recursos transferidos para empresas do setor via Pix somou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões mensais, totalizando mais de R$ 166 bilhões. Essas cifras já superam em 44% as estimativas iniciais do Ministério da Fazenda, que previa uma movimentação de até R$ 150 bilhões por ano.
Se os valores mínimos mensais se mantiverem até o fim do ano, o mercado pode alcançar R$ 216 bilhões. Com base na média atual, o total pode atingir R$ 249 bilhões. Esses números consideram apenas transações via Pix, sem incluir outros métodos de pagamento, como cartões de crédito e TED, que também são utilizados nas apostas online.
De acordo com o Banco Central, aproximadamente 15% do valor bruto fica retido pelas empresas de apostas, enquanto o restante é pago aos apostadores na forma de prêmios. No entanto, a instituição alerta que essa porcentagem pode estar subestimada, dada a complexidade do mercado.
Um dado alarmante no relatório do Banco Central mostra que, em agosto, beneficiários do programa Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões para plataformas de apostas, o que representa cerca de 20% dos R$ 14 bilhões pagos pelo governo às famílias no mesmo mês. Esse dado levanta preocupações sobre o uso inadequado do benefício, destinado a combater a fome e atender às necessidades básicas das famílias em situação de vulnerabilidade.
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, pediu mais informações à Fazenda e declarou que a regulamentação do mercado de apostas precisa considerar o impacto sobre as pessoas mais pobres. “O Bolsa Família tem por objetivo combater a fome e atender às necessidades básicas. Faremos o possível para manter esses objetivos”, afirmou.
Outras autoridades também expressaram preocupações. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que o aumento das apostas se tornou um “problema social grave”, enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, relacionou o crescimento das apostas à piora na inadimplência no país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se pronunciou sobre o endividamento das camadas mais pobres da população: “Estamos vendo o endividamento das pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro com apostas. Precisamos regular isso, senão teremos cassinos funcionando dentro da cozinha de cada casa”.
Em resposta a esses desafios, o Ministério da Fazenda prepara uma operação para regulamentar mais rigidamente o mercado de apostas a partir de janeiro. Uma das principais medidas será a exigência de um certificado de legitimidade, validado por empresas internacionais, que atestará a confiabilidade das plataformas. Sites que não obtiverem o selo de conformidade serão retirados do ar no Brasil.
O governo pretende eliminar as plataformas fraudulentas, como as associadas ao popular “jogo do tigrinho”, que operam de maneira irregular. Além da Fazenda, a Advocacia-Geral da União (AGU), a Anatel e a Polícia Federal estão envolvidas no planejamento dessa operação de “limpeza” do mercado, que busca diferenciar empresas legítimas de plataformas ligadas a fraudes e lavagem de dinheiro.
Com essas medidas, o governo espera proteger os consumidores, especialmente os mais vulneráveis, e trazer maior controle sobre o crescente mercado de apostas no país.