A Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou nesta quinta-feira (4) que a viagem antecipada de Janja Lula da Silva ao Japão não gerou despesas públicas adicionais. A primeira-dama chegou ao país asiático em 18 de março, uma semana antes da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que provocou reações imediatas da oposição e questionamentos sobre o uso da estrutura do Estado.
De acordo com a Secom, Janja embarcou em aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) junto à equipe precursora — grupo que costuma viajar antes do presidente para organizar a recepção oficial. Ela teria se hospedado na residência oficial da embaixada do Brasil em Tóquio, evitando, assim, despesas com hotéis. Além disso, a Secom reforçou que, por não exercer cargo formal, a primeira-dama não recebe diárias nem remuneração.
Seu nome aparece em primeiro lugar na comitiva publicada no Diário Oficial da União, com a observação “sem ônus”, ao lado do embaixador Octávio Henrique Côrtes, que atua no Japão. O objetivo do governo é deixar claro que a viagem não implicou gastos adicionais diretos para o Erário.
Ainda assim, a antecipação da viagem sem aviso prévio à imprensa ou à sociedade causou ruído político. Parlamentares da oposição voltaram a criticar o que chamam de “gabinete informal de Janja”, que, embora não tenha cargo oficial, mantém assessores, participa de eventos diplomáticos e tem crescente visibilidade na estrutura presidencial.
Dados obtidos pelo site Poder360 mostram que o custo da equipe da primeira-dama ficou na casa de R$ 1,9 milhão por ano entre 2023 e 2024, valor que inclui salários e benefícios de uma equipe com perfil de gabinete ministerial — sem a responsabilidade institucional de um.
O caso reacendeu o debate sobre os limites da atuação da primeira-dama em uma democracia presidencialista, onde o cargo não existe formalmente e não possui atribuições legais. Críticos apontam para a ausência de transparência sobre sua agenda, suas funções e a natureza de suas viagens, como fatores que desgastam o governo em um momento de queda de popularidade.
Durante a viagem ao Vietnã, o presidente Lula saiu em defesa da esposa, em resposta às críticas sobre a falta de comunicado oficial a respeito da viagem.
“Janja não é clandestina”, disse Lula. “Vai continuar fazendo o que ela gosta.”
A fala teve efeito simbólico: o presidente deixou claro que não pretende reduzir a atuação da primeira-dama, nem formalizar seus papéis. Para aliados, a exposição de Janja ajuda a reforçar a imagem “humana” do presidente. Para adversários, trata-se de um desvio institucional mascarado de ativismo social.
Além de Janja, a comitiva oficial incluiu o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), 14 ministros ou representantes de órgãos federais e cinco líderes sindicais, que participaram de reuniões com entidades japonesas em 26 de março, antes de seguir para Hanói, no Vietnã.
A viagem foi desenhada como parte de um esforço de relançamento da imagem internacional do Brasil, com foco em relações comerciais, ambientais e de defesa da democracia. Mas o episódio da viagem antecipada de Janja acabou desviando parte da atenção para o desgaste interno, mais uma vez forçando o governo a explicar o que não foi previamente comunicado.
