Apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como uma solução para tirar o trabalhador do sufoco financeiro, o empréstimo consignado com garantia do FGTS está se mostrando um negócio da China — para os bancos, não para quem toma o crédito.
O que foi vendido como um respiro para quem ganha pouco está se revelando uma armadilha disfarçada de alívio. O modelo permite que bancos utilizem o saldo do FGTS como garantia de pagamento, o que torna o risco de calote praticamente inexistente. Ainda assim, os bancos aplicam juros extorsivos que chegam a 89% ao ano — uma taxa que faz o cartão de crédito parecer filantrópico.
Não é como se o mercado estivesse cobrando caro por incerteza. Muito pelo contrário: nesse tipo de consignado, se o trabalhador não paga, o banco vai lá e pega direto do seu FGTS. Segurança total para a instituição financeira. Mas os juros? De livre mercado selvagem.
Para comparação:
Servidor público paga cerca de 24,2% ao ano no consignado.
Aposentado do INSS: 23,2%.
Trabalhador do setor privado: de 48,9% a 89%.
Mesmo com garantia sólida em caixa, o setor privado paga o dobro ou até o triplo de quem tem estabilidade no cargo — uma distorção que levanta uma pergunta incômoda: é ajuda ou exploração oficializada?
Segundo dados do Banco Central, o crédito pessoal comum teve juro médio de 45,6% ao ano em janeiro de 2025. Ou seja, o consignado com FGTS — mesmo com risco zero — é mais caro que o crédito sem garantia nenhuma. Isso não é mercado. É um esquema institucionalizado de transferência de renda do trabalhador para o sistema financeiro.
Especialistas alertam para o duplo risco: o trabalhador pode se endividar e ainda perder o que tem guardado no FGTS, que deveria ser uma reserva para emergências, não moeda de penhora para operações com taxas abusivas.
Nada disso é exatamente novo. Durante os governos do PT, os bancos já acumularam recordes sucessivos de lucros, enquanto políticas “sociais” vinham com letras miúdas que geravam renda — mas para o topo. Agora, o filme parece recomeçar: discurso popular, marketing com rosto humano e lucro bilionário garantido onde sempre foi garantido.
O consignado com FGTS foi anunciado como alternativa digna. Mas, do jeito que está estruturado, parece mais uma engenharia de empobrecimento lento, com aval oficial.
Se é essa a “volta por cima” prometida na nova campanha do governo, talvez o trabalhador devesse prestar mais atenção nos termos do acordo. Porque, por enquanto, quem está ganhando com força são os bancos. De novo.
