A influenciadora Deolane Bezerra, nome mais frequente nas manchetes policiais do que em campanhas de conscientização, decidiu ignorar a convocação da CPI das Bets do Senado — e, desta vez, com amparo legal. Munida de um habeas corpus concedido pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, ela está liberada da obrigação de comparecer à audiência marcada para esta quinta-feira (10/4), onde deveria prestar esclarecimentos sobre sua relação com plataformas de apostas.

A justificativa da convocação era simples: entender como influenciadores digitais, como Deolane, vêm sendo utilizados por casas de apostas para atrair jogadores — um modelo de marketing que, aparentemente, rende mais do que o Código Penal gostaria. Mas o Senado terá que ficar só com os prints e stories, porque o depoimento não vai rolar.

O habeas corpus foi despachado na última terça-feira (9/4), e claro, prontamente celebrado pela defesa da influenciadora como um “direito constitucional”. O que não foi lembrado é que essa mesma Constituição também sonha com um país onde pessoas respondem por suas ações — sonho difícil de realizar quando celebridades processadas são tratadas como se estivessem acima do escrutínio público.

O histórico não ajuda. Deolane foi presa em 2023 durante a Operação Integration, que investigava lavagem de dinheiro e envolvimento com jogos ilegais em Pernambuco. Na ocasião, não foi só ela: até a mãe, Solange Bezerra, foi parar atrás das grades. A influenciadora ainda conseguiu prisão domiciliar, mas descumpriu a decisão judicial ao se manifestar publicamente ao deixar a penitenciária — resultado: voltou para a cadeia no dia 10 de setembro e só saiu 13 dias depois.

Agora, livre do compromisso de explicar suas conexões com o universo dos jogos on-line, Deolane reforça uma narrativa já conhecida no Brasil: a da celebridade blindada por bons advogados, decisões monocráticas e um carisma de Instagram que, aparentemente, é suficiente para escapar da prestação de contas — ao menos por enquanto.