
Uma reunião fora da agenda oficial entre o atual secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal (PDT), e o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, voltou a acender o alerta sobre a atuação de operadores ligados ao esquema de descontos irregulares no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), segundo o site Metrópoles. O encontro, que ocorreu em 13 de março de 2023, não constava na agenda pública do secretário e só veio à tona após pedido via Lei de Acesso à Informação.
O “Careca do INSS” é apontado pela Polícia Federal como um dos principais articuladores do esquema de fraudes revelado na Operação Sem Desconto, que apura descontos associativos ilegais aplicados em milhões de benefícios previdenciários. Segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), cerca de 7,6 milhões de aposentados e pensionistas foram vítimas de cobranças indevidas em seus contracheques, entre 2019 e 2024.
A reportagem do portal Metrópoles revelou que o lobista entrou no prédio às 10h37 e deixou o local às 11h07, em companhia de representantes de instituições que atuam como correspondentes bancários de empréstimos consignados. À época, Portal ocupava o cargo de secretário do Regime Geral da Previdência Social, sob a chefia do ministro Carlos Lupi (PDT), com atribuições estratégicas na orientação da concessão de benefícios e na articulação normativa com instituições do setor.
Questionado, Adroaldo Portal afirmou à coluna de Tárcio Lorran que não conhecia o lobista e que a reunião não havia sido agendada. Disse ainda que recebeu o grupo por recomendação de uma assessora, que o alertou sobre o interesse de representantes de instituições financeiras em discutir a taxa de juros do consignado. Segundo ele, o assunto “descontos associativos” não foi tratado.
A omissão da reunião, no entanto, contraria as regras de transparência da administração pública, que exigem o registro oficial de encontros com qualquer agente externo, sobretudo em temas de interesse econômico direto — como é o caso do crédito consignado. A legislação prevê que essas agendas sejam divulgadas de forma proativa, justamente para coibir influências indevidas e lobby velado.
A revelação agrava o cenário político da gestão Lula no setor previdenciário. A Operação Sem Desconto já provocou o afastamento de diretores do INSS e trouxe à tona o envolvimento de entidades sindicais, associações e políticos em um esquema que pode ter causado um prejuízo superior a R$ 6 bilhões aos beneficiários da Previdência.
Embora Portal alegue não ter tratado de fraudes, a presença do “Careca do INSS” em seu gabinete sem registro oficial levanta dúvidas sobre os critérios adotados pelo ministério para proteger a integridade de suas decisões. A ausência de explicações convincentes reforça o clima de desconfiança sobre a blindagem institucional do setor, em um momento em que cresce a pressão por responsabilizações formais e por maior rigor no controle da máquina pública.
