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Robôs vão para linha de frente da luta contra coronavírus
Ciência e Tecnologia
Publicado em 12/04/2020

Uma doença extremamente infecciosa, que provocou o colapso de sistemas de saúde e matou mais de cem mil pessoas em poucos meses é o cenário perfeito para a aplicação de robôs. Eles são imunes ao contágio e podem trabalhar ininterruptamente, reduzindo a exposição de profissionais de saúde aos riscos. Com a pandemia do novo coronavírus, máquinas inteligentes ganharam espaço na linha de frente do tratamento da Covid-19, mas, segundo especialistas, não em número suficiente para, sozinhos, vencer esta guerra.

 

— Talvez não para esta pandemia, mas para futuras estaremos preparados. Nós estamos em uma emergência, então só podemos usar o que temos disponível. E existe um número limitado de robôs, porque não os desenvolvemos para combater esta pandemia, que já era previsível — lamenta Paolo Dario, pesquisador da Sant’Anna School of Advanced Studies, em Pisa, na Itália. — Algumas soluções estão disponíveis e, de fato, estão sendo usadas, mas muito mais poderá ser feito para o futuro.

 

Nos últimos anos, o desenvolvimento de robôs hospitalares focou no contato direto com o paciente, como braços robóticos para a realização de cirurgias. Muitos hospitais, inclusive no Brasil, já têm robôs cirurgiões, mas eles são de pouca valia na crise atual.

Pela facilidade de contágio, o volume de pacientes ultrapassa a capacidade dos hospitais, e os profissionais de saúde precisam lidar com o risco de contaminação e o excesso de trabalho. Apenas na Itália, mais de uma centena de médicos e enfermeiros já morreram de Covid-19, a doença provocada pelo vírus. Por isso, hospitais estão adaptando robôs para esse trabalho durante a crise.

 

Na China, a Ubtech está testando seus robôs corporativos — Cruzr e Aimbot — no Third People’s Hospital, em Shenzhen. Desenvolvido originalmente como um robô de monitoramento de ambientes, o Aimbot ganhou sensores para medir temperatura corporal e detectar uso de máscaras em grupos de até 15 pessoas, alertando quando alguém com febre não está vestindo equipamentos de proteção. Também foi equipado com desinfetantes para esterilização.

 

Adaptar o que existe

O Cruzr, criado para a recepção de clientes em hotéis, aeroportos e outros estabelecimentos, está sendo testado como atendente hospitalar. Na entrada, os pacientes interagem com a máquina, informando os sintomas e recebendo as primeiras instruções. É possível conversar com um médico, que atende por vídeo de um local seguro.

— Na robótica, assim como em outros campos, é válido considerar como você pode adaptar a tecnologia para lidar com uma emergência — afirma Russell H. Taylor, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos EUA. — E é isso o que a comunidade de robótica está discutindo: o que podemos fazer agora?

 

As soluções que estão surgindo vão desde as mais complexas, como as testadas em Shenzhen, a ideias mais simples, mas também eficazes. É o caso do uso de robôs de telepresença (basicamente um tablet acoplado a um cabo com rodas) para o monitoramento e a comunicação com pacientes em UTIs.

 

O hospital Circolo di Varese, na Lombardia, Itália, recebeu no fim do mês passado seis dessas máquinas, algumas com corpo humanoide, que estão acompanhando 12 leitos de UTI. Pela câmera dos robôs, os profissionais de saúde ficam em segurança enquanto monitoram pacientes e equipamentos dos leitos. Podem conversar de forma tranquila, sem os pesados e incômodos equipamentos de proteção.

— Obviamente, os robôs não eliminam o contato humano com o paciente, mas reduzem o acesso — avalia Francesco Dentali, diretor do Departamento de Alta Complexidade do Circolo. — De fato, economizamos o tempo de vestir e despir, com impacto significativo no nosso trabalho.

 

Na Universidade Johns Hopkins, pesquisadores exploram a possibilidade de usar robôs não apenas para comunicação, mas para a execução de pequenas tarefas, como ajustes nos ventiladores mecânicos que auxiliam a respiração dos pacientes.

 

O Cruzr foi criado para receber passageiros em aeroportos ou hóspedes em hotéis, mas está sendo empregado como primeiro contato de pacientes que chegam a hospital na China Foto: Ubtech

O Cruzr foi criado para receber passageiros em aeroportos ou hóspedes em hotéis, mas está sendo empregado como primeiro contato de pacientes que chegam a hospital na China Foto: Ubtech

— Basicamente, para apertar botões sem que uma pessoa tenha que entrar nos quartos, porque quando isso acontece, mesmo para um ajuste mínimo, é preciso vestir o traje de proteção completo — explica Taylor. — Isso custa muito tempo, e os estoques desses equipamentos estão baixos.

 

O especialista cita outros campos onde a robótica está auxiliando no combate à pandemia. Longe dos olhares do público, laboratórios investem em máquinas que manipulam amostras, oferecendo mais segurança e aumentando a produtividade, o que é essencial nesta pandemia.

 

Robôs para a pós-pandemia

Taylor imagina outras aplicações que podem ser desenvolvidas no curto prazo, como máquinas para esterilizar equipamentos médicos, robôs de logística para o transporte de alimentos e medicamentos, equipamentos para desinfecção com raios ultravioleta e para a coleta de materiais biológicos de pacientes.

 

— Uma área em que víamos poucas pesquisas é a da enfermagem. Essa crise vai fazer as pessoas perceberem sua importância — opina o pesquisador da Johns Hopkins.

 

Para Dario, a pandemia pode ser o ponto de virada para a aceitação do uso hospitalar da robótica, sempre questionado pela falta de humanização. E há ainda o temor da substituição de trabalhadores. Mas, para o especialista italiano, os robôs serão necessários no pós-pandemia. Passado o surto, o coronavírus continuará circulando e matando pessoas. Robôs, ou exércitos deles, poderão ser usados para descontaminar cidades inteiras.

 

— O mundo não é particularmente limpo, nem mesmo os hospitais. E pode estar certo de que surgirão novas doenças virulentas. Nós podemos desenvolver exércitos de robôs para dar fim a essas infecções em todos os lugares, em espaços públicos, hospitais, prédios comerciais, áreas abertas e fechadas — vislumbra Dario.

 

Por aqui, a start-up Sii Technology está de olho nesse mercado. Após ter seu negócio de automação hoteleira afetado pela crise, investe no desenvolvimento de um robô para desinfetar transportes públicos.

 

— A gente não sabe a duração dessa pandemia — diz Nancy Scardua Binda, cofundadora da start-up. — Os robôs podem trazer mais segurança para as pessoas que não podem ficar em isolamento.

Agência O Globo

Agência O Globo
Do Agência O Globo | Em: 12/04/2020 às 08:21:44
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