A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça teve rápida repercussão nas redes sociais. O governador Ronaldo Caiado (DEM) posou ao lado do ex-juiz, com um tuíte de elogio. Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, também parabenizou o ex-colega, bem como outras figuras políticas como Alexandre Baldy, Lincoln Tejota e mais. Se esse movimento apressado é uma possível intenção de projeção para o pleito de 2022, o cientista político Guilherme Carvalho diz que não, exatamente.
Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Goiás, o professor do tema afirma que não acredita em algo cogitado deste tipo por parte de Caiado. “Muitos times estão sendo colocados na avenida. Mas no momento, não enxergo ensaio para 2022. Vejo mais um momento em que antigos aliados de Bolsonaro aglutinam força para desestabilizar a base do governo”, aponta. Isso pode ser para colocar o presidente contra a parede, ou exigir uma mudança de postura.
Questionado sobre a possibilidade de impeachment ele não vê probabilidade clara neste momento, dada a pandemia e outros fatores, como o pleito deste ano. “Teríamos que ter uma confirmação muito clara dos crimes de responsabilidade, algo que a Câmara não podia negar. Talvez, um pedido protocolado pelo próprio ministro Sergio Moro, o que não acredito”, aponta.
Segundo ele, ainda, as casas do parlamento federal são distintas. Os senadores, por exemplo, ele relata, possuem uma proximidade maior com os governadores. “No nordeste tem faltado leitos. Um discurso, neste momento, de impeachment pode não pegar bem. Ainda por ser ano eleitoral.” Porém, se ano que vem, nada mudar, ele acredita ser possível. “Os políticos tradicionais já têm em mentes que precisar tirar Bolsonaro de 2022.”
Discurso político de Moro
Ao analisar o discurso do agora ex-ministro da Justiça, Guilherme observa que ele passou a maior parte do tempo falando do bom funcionamento da pasta enquanto esteve na mão dele. “Ele sempre coloca que não foi tão bom, deixando a entender que poderia ter sido melhor, por conta do Planalto. Então, ele já sai para traçar sua carreira política.”
Inclusive, Guilherme analisa a diferença da saída de Mandetta, mais discreto, com a de Moro, mais contundente. “Figura extremamente respeitada, que se lança de fato na vida pública. Como opositor do presidente, imediatamente. O Mandetta já era político.” De acordo com ele, o ex-juiz não deve mais ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que motivou essa postura.
A perda de Moro, bem avaliado dentro do governo é uma perda para Bolsonaro. O cientista político explica que o presidente se enfraquece ao abrir muitas frentes de combate ao mesmo tempo, assim, transformando ex-aliados em adversários. “Com isso, adversários naturais como Lula e Doria, Dilma e Moro se tornam aliados de conveniência [contra Bolsonaro].” O comentário chega após Guilherme lembrar o ex-magistrado citou que nos governos anteriores não havia interferências na Polícia Federal – o estopim da crise.
Ele aponta, ainda, que outro problema para Bolsonaro é que ele tem ampla concorrência dentre da mesma base ideológica. Além de Moro, os governadores Wilson Witzel (Rio), João Doria (São Paulo) e Ronaldo Caiado, além do próprio ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
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Francisco Costa
Do Mais Goiás | Em: 24/04/2020 às 15:10:37