Goiás já foi o primeiro do ranking do isolamento social do país. Contudo, nas últimas semanas, registros da empresa In Loco apontam que o estado é o último colocado no quesito confinamento, com média abaixo de 40%. O resultado da baixa adesão pode fazer com o número de mortes atinga os 1.239 casos até o mês de junho, em razão da covid-19; atualmente, o Estado soma 64 óbitos. A leitura diz respeito ao pior cenário projetado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) para crise em saúde, cuja divulgação ocorreu na manhã desta sexta-feira (15).
Na segunda nota técnica da modelagem da expansão espaço-temporal da Covid-19 em Goiás, a projeção considerou três cenários: “azul” com índice de isolamento, com média entre 50 e 55%; “verde” com taxa de confinamento entre 32-50% e o “vermelho”, com mais reduzida entre 25 e 30%.
De acordo com o levantamento, no cenário “vermelho”, considerado o pior índice de isolamento, o estado terá 1.239 mortes em decorrência da covid-19. O número, porém pode ser ainda maior em caso de falta de leitos de UTI. No cenário classificado como intermediário, seriam 551, e, na melhor das projeções, Goiás teria 220 óbitos. “Seriam mais de 800 vidas salvas caso a sociedade respeitasse o isolamento”, afirma o professor Thiago Rangel.
Leitos hospitalares
O levantamento também chama atenção quanto ao número de leitos hospitalares convencionais (clínicos) necessários para tratar os pacientes contaminados pelo novo coronavírus até junho de 2020. No cenário azul, em que a população volta para a quarentena, seriam necessários aproximadamente 500 leitos. Goiás, segundo informou Thiago Rangel, possui estrutura para atender a mencionada demanda.
No cenário verde, com taxa de isolamento médio, a demanda aumentaria para cerca de 5 mil leitos, ainda possível de atender, conforme a Secretária de Saúde (SES) informou aos pesquisadores. No pior dos cenários, no entanto, o número necessário é mais de 21 mil.
Para o professor, o número é impensável pela infraestrutura na área da Saúde que o Estado possui, mas bastante realista por conta do cenário atual. “Chegar a este nível é uma catástrofe, mas não impossível, visto que o isolamento continua caindo a cada dia. A quarentena praticamente não existe mais”, disse.
“Em direção ao abismo”
O pesquisador vê o cenário atual de isolamento como preocupante. Segundo ele, a situação está indo “em direção ao abismo”, visto que “as pessoas decretaram que a pandemia acabou”, o que, de acordo com ele, é erro em razão dos altos números de contágio no país.
Thiago ressalta que para elaborar a segunda nota técnica da projeção, o grupo de pesquisadores contou com dados fornecidos pelo Google Mobility, com sistema de levantamento similar ao da empresa In Loco. A nova ferramenta utilizada, no entanto, não mostra apenas se a população está ou não dentro de casa, mas aponta também para onde as pessoas estão indo.
Segundo ele, a grande preocupação refere-se às pessoas que “burlam” o isolamento para ficar em parques e praças de recreação. “Os dados mostram que o movimento caiu nas indústrias e escritórios, por exemplo. Em contrapartida, houve aumento em locais de atividades não essenciais. A população que deveria estar em casa nunca deixou de estar nos parques”, afirmou.
De acordo com o professor, a incidência de pessoas em parques indica desobediência civil. “O comércio fechou para a população ficar em casa, mas isso não tem ocorrido. As pessoas acham que podem dar um ‘jeitinho’ na pandemia. Não são as ações governamentais que têm relaxado, é a população que não tem desobedecido”.
E questionou: “Todo mundo é desobediente ou essa desobediência não é consciente e a população tem saído por necessidade de trabalhar e por saber que se ficar em casa vai ficar desassistida, sem comida e dinheiro?”.
Jessica Santos
Do Mais Goiás | Em: 15/05/2020 às 13:56:28