Em live com o jornalista Alexandre Garcia, o médico e diretor científico do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Waldemar Naves do Amaral, defendeu o uso da cloroquina para pacientes com o novo coronavírus e afirmou que a questão foi transformada em elemento político – mesmo não existindo comprovação científica da eficácia do medicamento.
“Medicamento de excelência e amplamente prescrito pelos médicos”, disse ele sobre o uso em paciente com a Covid-19. Segundo ele, quem gosta do presidente Bolsonaro usa e “fala bem”, e quem não gosta, usa e fala que tem muitos efeitos colaterais, mesmo não sendo uma verdade científica.
Na tarde desta segunda-feira (18), o Mais Goiás conseguiu contato com o profissional da saúde, mas o mesmo disse que somente o Cremego se manifestava sobre a questão. O Conselho informou que o posicionamento oficial sobre este assunto é do presidente Leonardo Rios, que afirmou que o medicamento não possui evidências sólidas de efeito confirmado na prevenção e tratamento da doença e que, na excepcionalidade da situação, pode ser prescrita em casos específicos, baseados na autonomia de médico e paciente.
Sobre o vídeo, Conselho Federal de Medicina (CFM) não se manifestou. A assessoria de comunicação encaminhou, apenas, links sobre a sua posição acerca da cloroquina e hidroxicloroquina. “Apesar de haver justificativas para a utilização desses medicamentos, como suas ações comprovadamente anti-inflamatórias e contra outros agentes infecciosos, seu baixo custo e o perfil de efeitos colaterais ser bem conhecido, não existem até o momento estudos clínicos de boa qualidade que comprovem sua eficácia em pacientes com Covid-19.”
Cremego
O Conselho Regional de Medicina de Goiás disse, por nota, que o posicionamento oficial é o do presidente Leonardo Reis. Em nota, ele afirmou que “sobre a prescrição de cloroquina e de hidroxicloroquina para pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19, o Cremego reitera a posição do Conselho Federal de Medicina (CFM), que por meio do Parecer nº 04/2020, aprovado em 16 de abril, estabelece critérios e condições para o uso do medicamento”.
No caso, ele cita que o CFM reforçou seu entendimento de que não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença. “Porém, diante da excepcionalidade da situação e durante o período declarado da pandemia de Covid-19, entende ser possível a prescrição desses medicamentos em situações específicas, sempre norteada pela autonomia do médico e pelo respeito à decisão do paciente.”
Parecer do CFM
Ainda conforme exposto no parecer do CFM, o conselho afirma que, “apesar de existirem justificativas para o uso desses medicamentos, baseadas em suas ações anti-inflamatórias e contra outros agentes infecciosos, seu baixo custo e os efeitos colaterais conhecidos, não há, até o momento, estudos clínicos de boa qualidade que comprovem sua eficácia em pacientes com Covid-19″.
A informação é a mesma publicada na Annals of Internal Medicine, uma revista médica acadêmica publicada pelo American College of Physicians. Em artigo do mês passado, os médicos Jinoos Yazdany (reumatologista especialista em lúpus) e Alfred H.J. Kim (especialista em reumatologia, patologia e imunologia) afirmam que: “Dados para apoiar o uso de HCQ e CQ para COVID-19 são limitados e inconclusivos.”
Recentemente, em matéria do UOL Notícias, foi informado, também, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua a realizar testes com a cloroquina. Além disso, é relatado que é preciso tempo para entender os reais efeitos do remédio.
Apesar de estar na lista de itens que podem representar avanço no combate ao vírus, ainda não é possível sugerir cientificamente que ele seja administrado pelos sistemas de saúde. “Precisamos de tempo para ter os números e saber o real efeito”, afirmou a porta-voz da OMS, Margaret Harris sobre o remédio.
Efeitos adversos
De volta ao CFM, o mesmo aponta que existem efeitos adversos para o uso da cloroquina, mas que estas situações são dinâmicas, e podem se alterar. “Por exemplo, a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, em documento publicado em 11 de abril, recomenda que a hidroxicloroquina e a cloroquina, isoladamente ou associadas a azitromicina, só sejam utilizadas em pacientes internados apenas dentro de protocolos clínicos de pesquisa. Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), ao analisar a segurança da cloroquina e da hidroxicloroquina faz algumas considerações, como a descrição de seus efeitos colaterais mais comuns: desconforto abdominal, náuseas, vômitos e diarreia. Contudo, podem também ocorrer toxicidade ocular, cardíaca, neurológica e cutâneas.”
Segundo o Conselho Federal de Medicina, pacientes portadores de psoríase (doença de pele crônica não contagiosa), porfiria (distúrbios que vem com o acúmulo de determinadas substâncias químicas relacionadas às proteínas de glóbulos vermelhos) e etilismo (doença crônica causa por consumo excessivo de álcool) podem ser mais suscetíveis a eventos adversos cutâneos, geralmente sem gravidade. “Em casos raros, pode ocorrer hemólise em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase. A SBR ainda pede que seja dada atenção especial à interação com outras drogas, como macrolídeos, quinolonas, alguns anti-virais e antipsicóticos, o que pode levar a problemas cardíacos.”
Na Suécia, o uso do medicamento foi interrompido na primeira quinzena de abril, após suspeitas de efeitos colaterais graves, como arritmias cardíacas e perda de visão periférica. “Tomamos a decisão de interromper o uso da cloroquina diante de uma série de casos suspeitos de efeitos colaterais severos, sobre os quais tivemos notícia tanto aqui na Suécia como através de colegas de hospitais em outros países”, destacou, à época, o professor Magnus Gisslén, da Universidade de Gotemburgo e chefe do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Sahlgrenska, o maior hospital da Suécia e um dos maiores da Europa.
Confira o vídeo na íntegra (o assunto é comentado por volta de 45min45seg):