Mais do que nunca compreendemos na prática conceitos ligados à empatia, como conexão humana, interdependência humana e ser social.
Em meio as inúmeras consequências emocionais, relacionais, profissionais, sociais e econômicas trazidas pelo COVID-19, nos parece certo dizer que qualquer solução efetiva para os desafios passados e atuais deverá contemplar nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, inferindo e compreendendo como ele sente, pensa e se comporta, ou seja, nossa capacidade de sermos empáticos.
Assim, se você vive os desafios atuais do home office, provavelmente reconhece que as dificuldades ligadas à divisão e à execução do trabalho não existiriam se todos se colocassem no lugar do outro, ajudando-se mutualmente.
Empatia em tempos de pandemia
Se você apresenta dificuldades financeiras e privações básicas, com certeza isso poderia ser resolvido com a prática da empatia compassiva por outras pessoas. Se você vive conflitos no relacionamento com seu marido, potencializados pela aproximação na quarentena, certamente eles seriam minimizados se cada um compreendesse melhor o ponto de vista do outro.
Não obstante, até mesmo os índices ligados à contaminação e ao isolamento social dependem diretamente da prática coletiva da empatia, porque ela pressupõe sair um pouco da introspecção e caminhar em direção a “outrospecção”, ao interesse e abertura por outras perspectivas e problemas que nem sempre estão diretamente ligados à própria pessoa.
A empatia é a ponte entre o egocentrismo e o altruísmo, tão necessária ser construída por todos nós.
Dessa forma, não importa qual a problemática em questão, seja pequenos problemas pessoais ou grandes problemas sociais, esteja no micro ou no macro, percebemos sem muito esforço que eles seriam drasticamente minimizados pelo exercício da empatia.
E se a empatia é um antídoto poderoso para muitos dos desafios humanos, ela é também um lubrificante para o desenvolvimento de outras competências essenciais ligadas à inteligência emocional, e consequentemente, ao sucesso pessoal e profissional de cada um.
O que você precisa saber sobre empatia
Embora esteja mais que comprovado que essa palavra tem poder, há cinco coisas essenciais sobre a empatia que você não pode esquecer. Elas com certeza impulsionarão o desenvolvimento de sua empatia e a sua motivação por praticá-la diariamente.
1 – Empatia não é simpatia
Apesar de serem palavras parecidas, na prática, ser empático e simpático é bem diferente.
Pessoas simpáticas apresentam bom relacionamento com outras, são normalmente agradáveis e se afeiçoam a outra em um nível mais superficial, sobretudo pelas características positivas que o outro compartilha.
Já a empatia compreende um nível mais profundo de envolvimento, pois pressupõe se colocar no lugar do outro, estando a empatia relacionada à capacidade de inferir e compreender como o outro pensa e sente (empatia cognitiva), a capacidade de sentir o que o outro realmente sente por meio da compreensão de sua perspectiva (empatia emocional), podendo inclusive estabelecer ações que ajudem efetivamente o outro na resolução de seus desafios (empatia compassiva).
2 – Você nasceu preparado para ser empático
É isso mesmo!! A neurociência já comprovou que somos seres empáticos por natureza.
A descoberta dos neurônios espelho trouxe luz às bases neuronais da empatia, ou seja, segundo a ciência nós possuímos condições neurológicas que nos permitem empatizar com aqueles que nos cercam.
Além disso, podemos desenvolver e treinar nossa empatia graças ao poder da neuroplasticidade, ou seja, da capacidade do nosso cérebro em desenvolver novas rotas neurais por meio do esforço repetitivo.
Assim da mesma forma que aprendemos tocar um novo instrumento, a falar um novo idioma ou qualquer outra habilidade, também somos capazes de desenvolver nossa empatia por meio do esforço dirigido e treino.
Pode acreditar! Chegará um momento que, assim como a nota de uma canção, a empatia fluirá de um jeito cada vez mais automático e natural.
3 – Sua empatia é proporcional ao seu esforço
Se é verdade que podemos desenvolver nossa capacidade empática, é importante reconhecer que isso somente ocorrerá por meio de ações direcionadas, por um esforço consistente e consciente de querer ser mais empático. Caso contrário, ela não passará de uma teoria bonita em nossas vidas.
Assim como aprender qualquer nova habilidade, o desenvolvimento da empatia envolve um processo laborioso de autoconhecimento, de abertura para novas perspectivas e da compreensão de que o outro possui uma história singular e crenças pessoais diferentes da sua, que influenciam sua forma de pensar, sentir e se comportar na vida.
Demonstrar um interesse genuíno pelo que o outro sente e pensa, diminuir as críticas e julgamentos, duvidar de verdades pessoais absolutistas, estabelecer uma comunicação amorosa e compreensiva com as pessoas, não limitar o outro a uma única característica ‘negativa’, ouvir com atenção alguém e reconhecer os próprios pontos de melhoria são alguns exemplos práticos para desenvolver a empatia no dia a dia.
4 – O seu treino começa em casa
Diferentemente do que muitas pessoas imaginam, a empatia não envolve necessariamente grandes causas sociais.
Apesar de facilmente nos empatizarmos com o outro em situações que envolvam grandes perdas e sofrimento, tal como ocorre hoje com a pandemia do Covid-19, o seu desenvolvimento começa em casa em situações triviais do cotidiano.
Ambientes familiares, como o lar e o trabalho, são verdadeiros laboratórios de treino e desenvolvimento da empatia.
Por isso, mantenha a atenção redobrada na comunicação em casa, na forma como os sentimentos e opiniões são acolhidos e no estado de presença ao ouvir alguém.
Segundo especialistas, o uso de tecnologias tais como o smartphones tem acarretado um verdadeiro ataque ao desenvolvimento da empatia. As pessoas estão cada vez mais conectadas e ausentes em casa.
A falta de conversas espontâneas, a escassez do compartilhamento dos sentimentos e pensamentos, a falta de atenção ao comportamento do outro, o isolamento e a ausência de uma escuta ativa e interessada abre pouco espaço para a cooperação e trocas interpessoais mais profundas, fatores essenciais para o desenvolvimento da empatia.
5 – O seu sucesso pessoal e profissional dependem da sua empatia
A empatia é uma das competências que compõem a inteligência emocional, sendo inclusive, mola propulsora para desenvolvimento de outras competências tais como pensamento sistêmico, flexibilidade de pensamento, criatividade e liderança.
Não é de se surpreender que pessoas empáticas apresentam facilidade nos relacionamentos interpessoais, menos conflito com o outro, bom desempenho profissional, sensação de bem estar geral, entre outros benefícios.
Por fim, vale ressaltar ainda, que empatia é vista como a competência da liderança de um futuro marcado por interações digitais, em que aqueles capazes de inferir o sentimento, pensamento e até prováveis atitudes do outro apresentarão informações extras para superar desafios impostos pelo mundo digital.
Foto: Arquivo pessoal
Caroline Dias é psicóloga clínica há 10 anos, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Reabilitação neuropsicológica. Contato: caroldiasbraga19@gmail.com ou (62) 98410-8384.
Maraisa Lima
Do Mais Goiás | Em: 20/05/2020 às 10:28:41