O Brasil é hoje o país do mundo com a tendência mais preocupante no registro de mortes por Covid-19 quando se observa o número pessoas que o novo coronavírus mata por dia.
Apesar de ser o sexto país com mais registros acumulados de morte pela doença, quando se considera o número de mortes por dia registrados na última semana, o Brasil perde apenas para os Estados Unidos. Nos EUA, porém, a média do número de mortes por dia já está caindo, enquanto no Brasil ela sobe consistentemente.
Com 18.859 mortes acumuladas hoje no Brasil, caso o país siga na mesma tendência, é possível que esse número supere em dez dias o dos países europeus que mais sofrem com a Covid-19: Itália, Espanha, França e Reino Unido, que já têm entre 25 mil e 35 mil mortos. O Brasil também chegou a 291.579 casos confirmados da doença.
Os Estados Unidos são ainda de longe o país com maior número de óbitos registrados, mais de 85 mil. Os americanos chegaram em determinado ponto (no meio de abril) a registrar uma média de mais de 2.000 mortes por dia, puxadas pelo surto de grandes proporções em Nova York. Esse número vem caindo, porém, e o país está agora registrando cerca de 1.300 mortes por dia, na média da última semana.
No Brasil, em contrapartida, a tendência da Covid-19 piora de maneira explosiva. Dez dias atrás o país estava registrando uma média de 500 mortes por dia, o número agora está em 800.
No gráfico acima, é possível observar bem a tendência preocupante. Para medir a tendência com mais consistência, o cálculo para cada dia é sempre feito levando em conta a média dos sete dias anteriores. Dessa forma, é eliminada a flutuação estatística provocada pela falta de funcionários para tabular dados em finais de semana. Mantida esta tendência, em menos de um mês o Brasil se tornaria o país onde a Covid-19 mata mais pessoas.
— Nós temos grandes chances de isso acontecer, porque não sei quanto tempo a gente vai conseguir manter o isolamento social — afirma o virologista Amilcar Tanuri, professor da UFRJ.
O cientista alerta, porém, que dados nacionais escondem desigualdades regionais, e a análise por mortes tem um problema de intervalo que dificulta o parecer sobre a situação imediata.
— Na Covid-19, a morte é consequência 20 ou 30 dias depois da incidência da doença — afirma. Nos dados por casos a situação do Brasil também sugere uma realidade preocupante.
O Brasil não está, agora, entre os dez países com maior número de mortalidade per capita, que ainda é dominado por países menores que estão em epidemia com transmissão comunitária da Covid-19 há mais tempo.
Segundo Tanuri, pode ser que em alguns estados ou regiões, já seja até possível aliviar as medidas de distanciamento social, mas a falta de dados detalhados no Brasil, e o baixo nível de testagem da população dificultam essa avaliação. O virologista alerta que a análise da epidemia pelo número de casos revela um quadro mais recente, mas mais sujeito a falhas na notificação de casos.
Do Agência O Globo | Em: 20/05/2020 às 21:23:50