Uma videoconferência foi realizada nesta quinta-feira (28) para discutir medidas relativas ao isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Estudos realizados pela Universidade Federal de Goiás (UFG) indicam um cenário mais grave em julho, podendo chegar a 162 mortes diárias, caso o índice de confinamento permaneça baixo no estado. Por outro lado, o setor produtivo persiste na defesa da reabertura parcial do comércio.
O professor Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, ressaltou que três notas técnicas foram apresentadas ao longo da pandemia. As previsões feitas pela UFG se confirmaram na prática. Um dos exemplos apresentados foi em relação ao número de óbitos. Foi destacado pelo professor que a 20ª morte por Covid-19 estava prevista para o dia 22 de abril e ela ocorreu dois dias antes, dentro da margem projetada.
O 50° óbito estava previsto para 10 de maio e ocorreu no dia 12 do mesmo mês, novamente com diferença pequena, de apenas dois dias. Quanto à 100ª morte, a previsão era de que acontecesse no dia 26 de maio e o cenário foi consolidado na mesma data. A 110ª morte estava projetada para esta quarta-feira (27) e também foi registrada. “O modelo tem sido capaz não só de capturar a pandemia no passado, mas uma boa capacidade de previsão de como será o comportamento da pandemia no Goiás”, destacou o professor.
De acordo com dados da empresa In Loco, o índice de isolamento social em Goiás é o segundo mais baixo do Brasil, na ordem de 36,1%, à frente apenas do Tocantins com 35,9%. Goiás já chegou a liderar o índice, mas nas últimas semanas, apenas cerca de um terço da população está se resguardando em casa, o que segundo os estudos da UFG, é um número aquém do necessário para conter um salto no alastramento da pandemia.
Isolamento
Caso o Estado consiga atingir bons índices de isolamento, as mortes podem ser reduzidas. A expectativa é de que, com o confinamento variando entre 50 e 55%, Goiás pode ter num cenário mais otimista de seis a 14 óbitos causados pela Covid-19 diariamente. “Agora não é o momento de relaxar em função das vitórias obtidas enquanto sociedade até o momento. Relaxamento ainda não é ideal”, explicou a professora da UFG, Cristiana Toscano.
A pesquisadora ressaltou que o momento certo de fechar e de abrir são cruciais no manejo adequado em uma epidemia. Ela reforça que a curva em Goiás é mais suave do que em outros estados do Brasil, mas que o momento é de não relaxar nas medidas de isolamento.
Na videoconferência, o governador Ronaldo Caiado (DEM) perguntou a Cristina Toscano sobre ações específicas nas regiões de maior contaminação, como ele gostaria que fosse feito por meio de decreto em 24 cidades com índices mais elevados de infecções e 8 localidades turísticas.
“Eu gostaria de formular uma pergunta. O processo teria de ser extensivo aos 246 municípios, ou deveriam ser mais seletivos aqueles municípios que temos visto o número de contaminação extrapolar de quase 30% dia a dia?”, indagou o governador. De acordo com a professora, é possível sim, considerando o número de casos e a taxa de isolamento de cada local fazer análises específicas a partir de grupos de municípios.
Flexibilização
Se por um lado, a UFG recomenda índices mais elevados do isolamento social para conter o avanço do coronavírus, por outro, o presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio), Marcelo Baiocchi, defende a reabertura parcial dos estabelecimentos comerciais, incluindo shoppings, bares e restaurantes, academias e comércio varejista.
Segundo Baiocchi, um estudo elaborado pelo Hospital Sírio Libanês e pela Associação Brasileira de Shoppings Centers que seria apresentado à Prefeitura de Goiânia – em reunião também realizada nesta quinta-feira (28) -, apoia essa versão. Baiocchi leu alguns pontos após insistência do governador para que ele fizesse a apresentação na reunião e citou o funcionamento dos estabelecimentos em horário reduzido.
O comércio, de acordo com ele, já perdeu datas importantes com a pandemia, como a Páscoa e o Dia das Mães, e se aproxima do Dia dos Namorados. Agora, a sugestão da classe empresarial é de que cinemas não sejam reabertos, assim como a parte de entretenimento para crianças e não sejam realizados eventos especiais para clientes. Defendeu ainda o uso obrigatório de máscara por parte de clientes e funcionários e sublinhou que trabalhadores dos grupos de risco não estariam autorizados a voltar ao trabalho.
Destacou ainda que seria necessário auferir a temperatura de todos que entrarem no shopping. Ninguém entraria sem as máscaras. Aumentar a frequência de desinfecção das áreas públicas. Marcelo Baiocchi disse que no Brasil já foram abertos 290 shoppings, sendo 135 em São Paulo.
Propostas
A Procuradora-Geral do Estado, Juliana Prudente, sugeriu a criação de comitês colegiados para trazer a participação popular, representantes do governo, das prefeituras, estabelecimentos comerciais, para equilibrar a Saúde e a Economia, com uma retomada gradual das atividades. Grupos deveriam se basear em protocolos e seguir critérios técnicos, científicos e jurídicos, sob pena de uma possível responsabilização no futuro.
O secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, afirmou que é preciso tomar decisões conjuntas. Ele relata a preocupação de que muitos estabelecimentos é que trabalhadores não tem plano de saúde e que este poderia ser um critério para reabertura. O secretário disse que ainda nesta quinta-feira será discutida a volta às aulas.
Ele criticou a postura de alguns municípios que tem tomado ações sem embasamento científico. “A posição da Secretaria de Saúde é para manutenção das medidas de isolamento social”, disse. O governador Ronaldo Caiado reforçou que o Estado vem trabalhando para ampliar a rede de Saúde, principalmente leitos de UTIs.
Samuel straioto
Do Mais Goiás | Em: 28/05/2020 às 12:19:31