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Faz mal forçar ou prender arroto, vômito, pum e outros mecanismos naturais?
Ciência e Tecnologia
Publicado em 09/07/2020

Sim, faz. Assim como tentar testar os próprios limites. O organismo não deve ser submetido a nenhum tipo de esforço para funcionar ou ser controlado e, principalmente, os mecanismos involuntários, que ocorrem sozinhos, espontaneamente. Na verdade, iniciado qualquer processo natural, ele deve acontecer.

 

Você que decide o que sai ou fica no seu corpo, mas até certo ponto. Por exemplo, se for um espirro é até possível prendê-lo, mas lembre-se que ele seguirá seu curso e, como um disparo com força de até 160 km/h, se não “estourar” fora, será internamente e com risco de danos.

 

Atenção com espirros, tosse e escarros

Em 2018, o periódico científico British Medical Journal reportou um caso raro ocorrido com um homem de 34 anos, na cidade inglesa de Leicester. Ao tentar segurar um espirro forte, ele rompeu a traqueia e não só ficou com problemas na fala, como também para engolir e permaneceu internado por uma semana recebendo alimentação via tubo, até se recuperar.

 

“Quando seguramos um desses reflexos, aumenta-se a pressão nas vias aéreas, podendo afetar não só a respiração, como os vasos sanguíneos periféricos, causando sangramentos, e também desencadear uma perfuração dos tímpanos, levando à surdez e tontura”, alerta Fernanda Wiltgen Machado, otorrinolaringologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

 

Ela explica que esse ar aprisionado se alastra pelos seios da face, pela tuba auditiva e ainda vai para a faringe, laringe, traqueia e pulmões. Se o espirro for muito intenso, a pressão pode causar ainda dor no peito, traumas e lesões nos órgãos.

 

Segurar tosse também não é bom, pois impede a eliminação de muco, microrganismos e agentes irritantes, como fumaça e gases.

 

Agora, forçar a expulsão em excesso do espirro como da tosse pode, devido ao aumento da pressão e da atividade muscular, causar desde pequenas hemorragias oculares a traumas na laringe, fraturas de costelas e a presença de ar entre as camadas da pleura, o revestimento dos pulmões, colapsando-os parcial ou totalmente.

 

Nem escarrar com frequência é indicado, pois leva a sangramentos de pequena intensidade e desgasta os tecidos internos da garganta.

 

Tem perigo prender a respiração?

Sim. Para funcionarem de maneira adequada, os ouvidos necessitam realizar uma constante equalização de pressão com o ambiente externo e isso acontece de maneira lenta e gradual graças à sua comunicação com o nariz.

 

“Ao prender a respiração e forçar pressão nos ouvidos de forma súbita e intensa pode ocorrer uma perfuração no tímpano. Essa prática realizada de forma recorrente também pode causar uma flacidez da membrana da tuba auditiva e resultar em algum grau de perda de audição”, informa Andy Vicente, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo.

 

Não para por aí: se você não domina armazenar oxigênio nos pulmões por muito tempo e está em uma situação com risco de asfixia, tentar bloquear as vias aéreas pode ser fatal. Prender a respiração durante a prática de atividades físicas intensas também não deve ser feito por aumentar a pressão arterial e o risco de desmaios, infarto e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

 

Segurar (ou não) vômito e arroto?

Em se tratando do vômito, geralmente é muito difícil conseguir prendê-lo já em andamento, porque os movimentos involuntários realizados pelo estômago e esôfago (ondas peristálticas) são coordenados e seguem o mesmo sentido ao tentar expulsar o conteúdo gástrico.

 

“Inibir isso pode levar a engasgos e fazer o conteúdo ir para o pulmão e gerar uma pneumonia química”, esclarece Vanessa Prado, cirurgiã do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, em São Paulo e membro da SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Aparelho Digestivo) e da SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia).

Vômito - Getty Images - Getty Images

 

Há riscos de danos também numa situação contrária, isto é, ao se forçar o vômito. O perigo maior, acrescenta Prado, é ocorrer um quadro chamado Síndrome de Mallory-Weiss, que é quando ocorrem lacerações nas paredes gastroesofágicas, acompanhadas de sangramento.

 

Já no caso dos arrotos (eructação), não faz mal segurá-los, mas pode ser incômodo. Em bebês, essa retenção pode causar cólica e nos adultos dores que se confundem com as de problemas cardíacos. Ao expelir esses gases, também não coloque força, para não fazer barulho, piorar eventuais quadros de refluxo e provocar regurgitação involuntária do alimento e do suco gástrico. Forçar esse hábito, ao contrário do que se pensa, ainda aumenta o volume de gases.

 

Sem pressão nos puns e ao evacuar

Ao final do processo digestivo, tudo o que ingerimos precisa sair, mas espontaneamente. Em se tratando das fezes, prendê-las pode gerar um aumento da pressão no canal anal, gerando grande desconforto local e dor.

 

Não ir ao banheiro quando o intestino pede também contribui para o aumento de gases que, se segurados e em excesso, provocam inchaço e volume da barriga (distensão abdominal), além do endurecimento do bolo fecal, que pode ficar ressecado e dificultar depois sua eliminação.

Peido - iStock - iStock

 

“O risco de se forçar o abdome, seja para evacuar e também urinar e soltar gases, é aumentar a pressão nas veias do plexo hemorroidário, que ficam no entorno do ânus, e provocar a formação de hemorroidas, ou seja, varizes dessas veias, que se agravadas podem sangrar”, explica Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, ambos em São Paulo.

 

Apesar disso, o médico garante que gestantes com problemas de prisão de ventre não correm risco de ter aborto espontâneo ou um parto antecipado.

 

Hábito de urinar também influencia na saúde

Segurar ao máximo e com frequência a vontade de fazer xixi acaba forçando a bexiga, que com o passar dos anos fica com a musculatura flácida, impedindo uma micção fácil e regular.

 

Para saber quando é o momento certo de urinar e manter o órgão saudável, Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Hospital Israelita Albert Einstein, orienta: “A bexiga dos homens tem uma capacidade maior que a das mulheres. Por isso, eles devem urinar, mais ou menos, a cada 4 ou 5 horas por dia. Elas, por reterem menos a urina, não devem ultrapassar mais de 3 horas. Isso pensando em pessoas que se hidratam bem”.

 

Também nos homens a chance de ter problemas recorrentes por segurar o xixi é um pouco menor do que nas mulheres. Neles, com a retenção da urina, existe a possibilidade de formação de cálculos, além de infecção urinária, que não é tão frequente como nelas.

 

Urinar - iStock - iStock

O motivo? As bactérias que existem na vagina e no ânus, que são próximos, podem migrar mais facilmente para a uretra, ainda mais sem a urina represada para “limpar” o trajeto desse canal.

 

“Na gestação, como já existe uma diminuição natural do fluxo de urina, o risco de infecção também é maior e pode disparar um trabalho de parto prematuro. As bactérias podem ainda subir aos rins, causando uma pielonefrite e levar à morte por sepse. Por isso, toda grávida deve urinar na primeira vontade e beber muita água ao longo do dia”, diz Alexandre Pupo.

 

Mas atenção para não forçar a micção. Pessoas que urinam por prevenção muitas vezes ao dia e com a bexiga funcionando com baixa capacidade também podem ter problemas. É que ela se controla sozinha, independente do nosso comando.

 

Forçá-la em horário indevido, com o tempo faz com que perca sua capacidade automática de perceber quando é preciso urinar e pode desencadear incontinência e dores, pois o músculo do assoalho pélvico acaba contraído quando está relaxado.

 

Do FolhaPress | Em: 09/07/2020 às 08:40:37

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