Uma advogada de Itapira, a 165 quilômetros de São Paulo, afirmou que irá processar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por danos moral e material após o filho de 13 anos passar oito dias internado com Covid-19. Segundo Maíra Rechhia, de 40 anos, o objetivo da ação é que seja reconhecida a responsabilidade do presidente diante às mortes e aos casos confirmados pela doença.
Em conversa com o Universa, do UOL, Maíra conta que o filho chegou a ficar com 50% do pulmão comprometido. Segundo ela, antes da doença, o adolescente não tinha nenhum problema de saúde e não estava saindo de casa durante a quarentena, já que as aulas eram todas online. “Mesmo assim, contraiu covid-19. Apesar de ser muito jovem, a doença evoluiu rápido[…]. Só não morreu porque teve acesso a um bom hospital, ficou internado no Albert Einstein, aqui em São Paulo. Caso contrário, não sei o que seria.”, afirmou.
Maíra disse que, no momento que o adolescente estava no hospital, imaginava a situação das mães que não teriam como dar o mesmo tratamento que o filho estava recebendo: ele esteve internado no Hospital Albert Einstein. “Se eu, com toda condição de conseguir um bom tratamento para ele, estava nessa situação, como fica quem não tem essa possibilidade?”, questionava.
A advogada contou que precisa ser forte para passar confiança ao filho, mas, em certos momentos, ela desabava. “Moro no interior de São Paulo, onde está minha família, e estava com meu filho na capital. Em um dado momento, ele disse que queria ir para casa, que não queria morrer longe de todo mundo. Eu tentava animá-lo, brincava, cantava músicas, fazia alguma palhaçada. Depois, ia para o banheiro chorar. Foram os piores dias da minha vida.”
Em meio a toda incerteza, Maíra começou a estudar maneiras de processar o presidente. Em suas pesquisas, ela encontrou um grupo de vítimas da Covid e famílias que perderam parentes para doença e que exigem a responsabilização do presidente.
Vou pedir a responsabilização do governo por eventuais omissões praticadas durante a pandemia de covid-19, isso porque o direito administrativo brasileiro adotou, como regra, a responsabilidade objetiva do Estado em casos como esse. Mesmo em se tratando de responsabilidade subjetiva, quando se fala de culpa, por exemplo, os requisitos também estão presentes porque houve deficiência no atendimento das pessoas, falta de informação e ausência de ferramentas de vacinação e contenção da propagação da covid, sendo que é obrigação do Estado dispensar um tratamento digno e eficiente a todos, inclusive por recomendação de protocolos nacionais e internacionais.
Maíra ainda diz que Bolsonaro age de maneira “irresponsável” e que, a todo momento, ele desrespeita as mães enlutadas pela pandemia. “Ter um presidente que estimula o contágio, que é irresponsável com a saúde das pessoas, que recusou compra de vacina, que promoveu campanhas falsas sobre ‘kit Covid’, é cruel. E me revolta ver cenas como a que ele tirou a máscara de uma criança. É um desrespeito com todas as mães.”
A mãe destaca que, mesmo quase um mês após ao adolescente ter tido alta, ele não está totalmente curado. Segundo ela, o garoto desenvolveu crises de sinusite. Com isso, ela faz um apelo. “Precisamos levar a sério a Covid entre os mais jovens. Não sabemos o impacto da doença nessa população, estamos correndo um risco sério de ver aumentar a mortalidade infantil pela ausência de políticas públicas adequadas. Vamos começar a perder crianças”, finaliza.
Joao Paulo Alexandre
Do Mais Goiás