Uma idosa de 71 anos foi indenizada em R$ 20 mil após desenvolver depressão grave e câncer de pele, doenças que teriam sido causadas pelo contato com a farda que o marido usava quando atuou no caso do Césio-137, há 33 anos. Na decisão, o juiz do caso entendeu que houve nexo de causalidade entre a enfermidade psíquica da idosa (depressão) e o acidente radioativo em Goiânia.
Um dos bombeiros que atuaram na contenção do acidente na época foi o bombeiro aposentado Osvaldino Fidêncio. Uma vez que o risco da radiação não foi amplamente informado aos militares que trabalhavam no caso, Osvaldino voltava para casa com a farda e a entregava para ser lavada pela esposa, Benvina Alves – o que fez com que ela tivesse contato direto com resquícios radioativos.
Ao longo dos anos, a mulher desenvolveu câncer de pele. Após sessões de radioterapia em 2014, Benvina teve que retirar o tecido canceroso. Além disso, a mulher de Osvaldino desenvolveu um quadro de depressão que se agravou a ponto de invalidá-la para trabalhar, conforme laudo psiquiátrico.
Na decisão proferida, o juiz do caso argumentou que “a conclusão foi taxativa ao afirmar que há nexo de causalidade da enfermidade psíquica com o acidente do Césio-137”. O magistrado também levou em conta o resultado de perícia realizada pela Junta Médica Oficial do Cara, ao determinar a indenização de R$ 20 mil.
Acidente com o Césio-137 marcou história de Goiânia
O acidente com o Césio-137 aconteceu em 1987, sendo considerado o maior do mundo ocorrido fora de usinas nucleares. Na época, o Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, no Centro da capital, serviu de campo de monitoramento e descontaminação. Segundo o Centro de Assistência dos Radioacidentados (Cara), lá, 112.800 pessoas foram monitoradas e 249 pessoas manifestaram contaminação no corpo; 120 outras foram detectadas com contaminação externa, nas roupas e sapatos.
Em entrevista ao Mais Goiás, um policial militar que atuou na chamada “Operação Césio”, o tenente Valdir de Oliveira, contou que os militares que trabalharam no caso não recebiam qualquer tipo de proteção, ficando expostos à radiação.
“A roupa que a gente usava era só o fardamento. A gente não tinha nenhum equipamento. O Exército chegou lá, ficou por 40 minutos e o comandante deles os retirou imediatamente. Ficou só a PM mesmo […].Eu me senti uma cobaia. Fomos jogados lá”, revelou.