O comediante Danilo Gentili saiu em defesa do cantor Gusttavo Lima em meio às revelações sobre o recebimento de verbas públicas por cantores sertanejos a partir de pequenas prefeituras, apelidada de “CPI do sertanejo” nas redes sociais.
“Se Gusttavo Lima todo ano tirasse foto apoiando o Freixo e votasse em Lula, a mídia estaria passando pano. Estaríamos lendo no UOL hoje mesmo ‘como o dinheiro de prefeituras em shows gera renda e fomenta a economia local’, escreveu Gentili no Twitter. “Aqui no Brasil tudo depende do lado que você está.”
O apresentador e humorista fez a publicação meses depois de ter seu filme “Como e Tornar o Pior Aluno da Escola” envolvido em uma polêmica com bolsonaristas. O longa, escrito por ele, foi acusado de fazer apologia à pedofilia por membros do governo influentes, como o então secretário especial da Cultura, Mario Frias, e o deputado André Fernandes.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a censura do filme e, em seguida, subiu a classificação indicativa de 14 para 18 anos. Posteriormente, o filme teve censura suspensa por decisão da juíza Daniela Berwanger Martins, da 7ª Vara Federal do Rio.
Já o caso envolvendo cantores sertanejos começou quando Zé Neto –que, assim como Lima, é apoiador de Bolsonaro– criticou a cantora Anitta em um show e disse que não precisava usar recursos da Lei Rouanet.
Descobriu-se, em seguida, que artistas sertanejos, em geral apoiadores do presidente, se valem de recursos públicos para impulsionar suas carreiras, ainda que se gabem de não usar a Lei de Incentivo à Cultura.
Esses artistas captam recursos públicos de um modo menos regulado do que aqueles que recorrem à Lei Rouanet, pois é a prefeitura que vai até o artista e o contrata sem licitação. Já no caso dos recursos pela Lei de Incentivo à Cultura, é o artista que procura o Estado e precisa enfrentar um processo de várias etapas até obter a verba.
A partir das revelações, o Ministério Público passou a investigar os cachês pagos por prefeituras de cidade em Minas Gerais, Roraima e Rio de Janeiro.
São Luiz, cidade com 7.000 habitantes dona do segundo menor PIB de Roraima, contratou um show de Gusttavo Lima por R$ 800 mil. O mesmo artista também faria um show em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, que custaria R$ 1,2 milhão à prefeitura –a apresentação foi cancelada após o caso vir à tona. O cantor é um dos artistas sertanejos com o maior cachê do país.
As investigações do Ministério Público questionam qual o retorno que os moradores dessas cidades terão com os shows desses artistas, já que, em alguns casos, os valores são maiores do que o investimento na área cultural durante o ano inteiro. Além disso, o órgão investiga a origem da verba, que em alguns casos foi desviada de áreas como educação, ambiente e infraestrutura.