O uso de tecnologia por governos deve ter foco na população, afirma o diretor de sistemas e inovação do Instituto Cidades Inteligentes, Maurício Pimentel. A organização social, fundada em 1998, oferece soluções em tecnologia para entidades públicas e prefeituras, como as de Curitiba, capital do Paraná, e Londrina, no mesmo estado, e Osasco, em São Paulo.
“Reposicionar a ideia de entrega de tecnologia para o governo como uma tecnologia que só atende a burocracia, só atende o processo, a execução do serviço público, por uma tecnologia que olha para o cidadão”, disse Pimentel, em entrevista à Agência Brasil, no estande do instituto na quarta edição do Viasoft Connect, evento de inovação e gestão.
De acordo com Pimentel, no Brasil, as soluções tecnológicas, como automação e digitalização de processos ainda estão mais focadas em facilitar a gestão pública do que a vida das pessoas. “Se você der uma circulada nos municípios do Brasil,vai ver que quase sempre a tecnologia atende bastante bem o burocrático, mas não o cidadão.”
Para o especialista, essa visão precisa ser mudada. “Um sistema que controla a execução orçamentária, que é uma coisa muito interna do governo, precisa gerar na ponta benefício para o cidadão”, enfatiza. Para Pimentel, é fundamental que tarefas como pagamento de impostos, guias para exames médicos e outros serviços de uso direto da população sejam facilitados com as soluções tecnológicas.
Apesar de ressaltar a necessidade de inovações que atendam a realidade brasileira, ele cita o exemplo da Estônia, país do Leste Europeu que conseguiu facilitar a vida da população em diversos trâmites burocráticos. “Conseguiram automatizar diversos processos, desde o atendimento para uma licença até a abertura de empresas.”
Desigualdades
Além disso, o diretor do Instituto Cidades Inteligentes afirma que é preciso enfrentar as desigualdades sociais com o uso dos dispositivos digitais. “O município não é uma startup, o município não pode determinar target [público-alvo]. O município tem que atender o tempo todo a todos.”
Por isso, Pimentel destaca a necessidade de promover a formação de pessoas com pouca afinidade com as tecnologias surgidas nos últimos anos, como a população mais idosa. “O novo analfabeto, que é o analfabeto digital, é letrado, tem uma profissão, carreira de sucesso, mas não se encontra com a tecnologia”, exemplifica.
Superado esse desafio, ele considera possível levar soluções de forma mais democrática às partes mais pobres das grandes cidades. “A mobilidade é um caminho de solução, a tecnologia entregue pelo celular. Não importa onde o cidadão mora, ele tem um celular e, se tiver celular, ele tem acesso. Para com a ideia de que só tem serviço público, onde tem grandes estruturas físicas, porque isso custa muito dinheiro e cria uma barreira de expansão”, diz.