JOSÉ HENRIQUE MARIANTE E ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A mais ambiciosa abertura das Olimpíadas na história superou inúmeras dificuldades logísticas, ameaças terroristas e até a sabotagem do sistema ferroviário do país horas antes de seu início. Mas foi a chuva, irregular, insistente e inclemente que estragou a festa em Paris.
Um espetáculo desconstruído, em que a tradicional sequência festa, desfile de atletas, hino e discurso, receita de bolo de muitas Olimpíadas, foi completamente pervertido.
Pelo Sena, a prometida parada náutica com atletas de 206 delegações se deu sem grandes transtornos, pontuados por espetáculos que falavam de séculos de França por 6 km de rio. Lady Gaga, Aya Nakamura, os Minions e até dançarinas do Moulin apareciam em apresentações às margens do Sena e em pontos turísticos conhecidos da capital francesa, como o museu do Louvre e Grand Palais.
Uma espetacular execução do hino francês pela mezo soprano Axelle Saint Cirel no teto do icônico prédio, empunhando a bandeira tricolor, ocorreu no meio da festa, quando parte do publico de 320 mil pessoas se dispersava, procurava abrigo ou se enlameava nas áreas confinadas pelo forte esquema de segurança.
O grande segredo da festa foi revelada no final. Teddy Riner e Marie-José Perec foram os responsáveis por acender a pira olímpica. Antes, em discurso, o presidente do COI, Thomas Bach, celebrou Paris como a cidade natal de Pierre de Coubertin, “nosso fundador” e a “quem tudo devemos”. “Vamos todos juntos viver os Jogos Olímpicos mais inclusivos, mais urbanos, mais jovens, mais duráveis. Os primeiros Jogos Olímpicos com total paridade de mulheres e homens nas competições.”
No trecho entre as pontes Alexandre 3º e De l’Alma, grande parte dos espectadores eram parisienses que receberam ingressos gratuitos -mas em pé e com péssima visibilidade do rio, depois de mais de uma hora de espera na fila.
A chuva transformou alguns trechos desse setor em um lamaçal. Quem podia, tentava subir onde dava: grades, estações de energia e até um trator imprudentemente deixado ali, até a polícia tirar.
“Não sei qual a graça. É como ficar vendo os bateaux-mouches passarem”, comentou um espectador.
Quando o barco do Brasil passou, centenas de pessoas já estavam indo embora sob a chuva.
No final do trajeto, no Trocadero, em frente à Torre Eiffel, os atletas chegavam em menor número, sugerindo que parte das delegações estava sendo poupada. Nas tribunas, sem a mesma opção, autoridades, público e jornalistas sofriam sob muita água. Apenas o trecho onde estava o presidente Emmanuel Macron era mais protegido.
“Os Jogos mais abertos da historia”, um dos bordões da ambiciosa campanha francesa, começaram sob o policiamento de 45 mil homens e a ressaca de uma manhã prejudicada por atos de sabotagem em linhas do TGV em todo o país. A “ideia louca” de fazer uma festa fora de um estádio pela primeira vez, como descreveu Macron, perdeu o brilho debaixo de muita água.