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Estados Unidos repetem ‘Dream Team’ e massacram Brasil nos Jogos de Paris
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Publicado em 07/08/2024

“O sonho brasileiro de ao menos equilibrar um pouco as coisas durou exatos 4 minutos e 42 segundos, o que já é uma façanha. Até então, o jogo estava 15 a 15”, escreveu Clóvis Rossi, na Folha, em 1992, em seguida mudando o tempo verbal para transmitir a experiência da beira da quadra. “Depois, os monstros que parecem feitos de elástico vão acumulando pontos com uma naturalidade que nem se percebe o tempo passar. Até os juízes, de vez em quando, assistem.”

 

Troque os “4 minutos e 42 segundos” por “3 minutos e 20 segundos” e o “15 a 15” por “5 a 4”. Assim, o relato da derrota do Brasil para os Estados Unidos no torneio olímpico masculino de basquete dos Jogos Olímpicos de Barcelona -redigido por mãos hábeis no jornalismo e na bola ao cesto, afinal Clóvis fora atleta da modalidade do Esporte Clube Sírio- passa a valer para o reencontro de 2024, em Paris.

 

A diferença de pontos foi menor, é verdade, do que a vista há 32 anos, naquele 127 a 83 no Palau d’Esports de Badalona. Mas em nenhum momento houve dúvida sobre quem sairia vencedor na Arena Bercy, e o resultado não surpreendeu: 122 a 87 para o time de LeBron James, Stephen Curry e Kevin Durant, classificado às semifinais.

 

Eliminados, os jogadores do Brasil se comportaram de maneira semelhante à vista 32 anos antes, quando Oscar Schmidt, Paulinho Villas Boas, Cadum e Pipoka correram para receber os cumprimentos dos craques adversários. Na ocasião, a lista de rivais incluía Michael Jordan, Larry Bird e Charles Barkley -Magic Johnson, poupado, nem atuou, embora também tenha sido tietado.

 

Na versão parisiense do duelo, como ocorrera na Catalunha, o jogo físico dos Estados Unidos foi muito além do que o adversário podia suportar. Marcelinho tentava organizar o ataque, porém os espaços eram exíguos, com perdas de bola e contra-ataques. Ao fim do primeiro período, o placar apontava 33 a 21. No intervalo, exibia incontestáveis 63 a 36.

 

O público era majoritariamente francês e acabara de vibrar com o triunfo da seleção anfitriã sobre o Canadá. No duelo subsequente, as arquibancadas escolheram o azarão Brasil, embora se empolgassem com as jogadas plásticas dos craques norte-americanos, como as bandejas de James e os tiros de longe de Devin Booker.

 

Só não era aplaudido Joel Embiid. Ao contrário. Nascido em Camarões, o pivô chegou a flertar com a França antes de optar por defender os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos. Vaiado a cada toque na bola, respondeu com 14 pontos e sete rebotes. LeBron teve 12 pontos e nove assistências. Devin Booker anotou 18 pontos.

 

Do outro lado, Bruno Caboclo teve 30 pontos, sete rebotes e um toco em Embiid muito celebrado na Arena Bercy. O apupado pivô nem precisou pisar na quadra no segundo tempo, disputado em ritmo de treino. Os dois treinadores usaram bastante suas opções de banco até o cronômetro ser zerado.

 

A campanha interrompida nas quartas não chega a ser uma decepção para a seleção brasileira, que ficou fora dos Jogos de Tóquio, em 2021, e, em processo de renovação, obteve sua classificação a Paris na última chance, apenas um mês antes da disputa. Na França, caiu diante dos oponentes mais firmes que enfrentou na fase de grupos -França e Alemanha- e avançou ao mata-mata graças a um triunfo sobre o Japão.

 

Aí, o cruzamento lhe ofereceu os Estados Unidos, que montaram um esquadrão comparado ao “Dream Team”, o “time dos sonhos” de 1992. A motivação na formação do time estrelado foi semelhante às vista três décadas antes: reagir após maus resultados em torneios internacionais, sem as principais estrelas da NBA.

 

No ano passado, a equipe dirigida por Steve Kerr ficou apenas em quarto lugar na Copa do Mundo, vencida pela Alemanha. Então, LeBron James telefonou a Stephen Curry, seu velho rival, e sugeriu a ideia de uma união olímpica. Logo se juntaram a eles Kevin Durant, Anthony Davis, Devin Booker e outros craques, dispostos a assegurar o ouro em Paris.

 

Essa junção de talentos é provavelmente mais necessária para o triunfo do que foi a reunião de lendas de 1992. A partir do século 21, como parte de um movimento global fomentado pela própria NBA, mais e mais atletas estrangeiros de destaque passaram a frequentar a liga norte-americana. Nenhum dos últimos seis prêmios de melhor do campeonato foi entregue a um atleta nascido nos Estados Unidos -embora Embiid tenha se naturalizado e agora seja companheiro de LeBron.

 

O entrosamento não foi imediato. Houve atuações criticadas nos amistosos preparatórios, porém Kerr conseguiu estabelecer uma ideia, baseada sobretudo em sufocar defensivamente os adversários. A trajetória na fase de grupos foi muito tranquila, com vitórias fáceis sobre Sérvia (110 a 84), Sudão do Sul (103 a 86) e Porto Rico (104 a 83).

 

Agora, os favoritos enfrentarão novamente a Sérvia, de Nikola Jokic, escolhido melhor da NBA três vezes -sua equipe obteve uma impressionante virada sobre a Austrália, 95 a 90, na prorrogação, saindo de um buraco de 24 pontos. Na outra partida semifinal, a campeã mundial Alemanha vai encarar a anfitriã França.

 

Já a equipe brasileira tenta entender qual será o seu futuro, certamente sem nomes como o armador Marcelinho Huertas, que disputou os Jogos Olímpicos aos 41 anos. O próprio treinador da seleção, o croata Aleksandar Petrovic, estava aposentado e foi uma solução emergencial que deu certo no torneio pré-olímpico.

 

Mas há também jovens de talento, como Gui Santos, 22, e Yago, 25. Bruno Caboclo, 28, que já havia se destacado na classificação a Paris, voltou a fazer um bom campeonato e foi bem contra os Estados Unidos. Só não havia muito o que fazer contra um time que se dá ao luxo de ter atletas como Anthony Davis no banco.

 

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