Mensagens obtidas pelo Folha de S. Paulo revelam a crescente irritação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com a demora na produção de relatórios pela Justiça Eleitoral, usados para embasar decisões no inquérito das fake news. Com mais de 6 gigabytes de conteúdo trocado via WhatsApp entre assessores de Moraes, as conversas mostram como o ministro pressionava por respostas rápidas e se mostrava insatisfeito com a lentidão no atendimento de suas ordens.
O foco das mensagens era a comunicação entre o juiz instrutor Airton Vieira, principal assessor de Moraes no STF, e Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE. Em diversas ocasiões, Moraes demonstrou impaciência com a falta de celeridade, como quando, em 28 de dezembro de 2022, Vieira transmitiu a frustração do ministro em uma mensagem: “Vocês querem que eu faça o laudo?”. A fala refletia o crescente desconforto de Moraes com a situação, especialmente em um período em que não havia sessões no STF, o que aumentava sua atenção aos detalhes dos inquéritos.
A pressão de Moraes era tão intensa que, mesmo após receber uma versão inicial do relatório sobre postagens de Rodrigo Constantino, o ministro insistiu em mais alterações. Vieira, refletindo essa urgência, comentou: “Ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”. Mesmo Tagliaferro, responsável por atender aos pedidos, reconheceu a suficiência do relatório inicial, mas foi obrigado a ceder às exigências do ministro para evitar maiores contratempos.
A situação culminou em 1º de janeiro de 2023, quando Vieira enviou a Tagliaferro cópias de duas decisões sigilosas de Moraes, que haviam sido produzidas com base nos relatórios obtidos sob pressão. Nas decisões, que não mencionavam a informalidade do processo, Moraes ordenou a quebra de sigilo bancário e o bloqueio de redes sociais de bolsonaristas, demonstrando a importância que atribuía ao cumprimento imediato de suas demandas.
Essas mensagens ilustram a tensão nos bastidores do STF e a impaciência de Moraes com a lentidão nos procedimentos, especialmente em um inquérito tão sensível e politicamente carregado como o das fake news.