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R$ 35,6 milhões em emendas, mas nenhum centavo para salvar a ponte: tragédia expõe investimento em shows e luzes
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Publicado em 30/12/2024

Desde 2022, as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) receberam R$ 35,6 milhões em emendas parlamentares do Congresso Nacional. O valor foi usado para custear shows sertanejos, iluminação em LED e outras obras, mas não para a manutenção da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que desabou no último dia 22. A tragédia deixou 17 mortos e uma pessoa ferida, evidenciando uma gestão que priorizou gastos festivos em vez de assegurar a integridade de uma estrutura vital. A informação é do jornal Estadão.

 

Aguiarnópolis, com apenas 4,5 mil habitantes, usou parte das emendas para financiar pelo menos 11 shows desde 2023. Só o 30º aniversário da cidade, celebrado em maio deste ano, consumiu R$ 753 mil em cachês. Entre as atrações contratadas estavam Nadson O Ferinha, com um cachê de R$ 280 mil, e os evangélicos Davi Sacer e Valesca Mayssa. Ao todo, os eventos custaram R$ 1,2 milhão, pagos com emendas Pix — uma modalidade que, até agosto, permitia repasses sem a necessidade de justificar o uso prévio dos recursos.

 

 

O prefeito Wanderly dos Santos Leite (Republicanos) não respondeu aos questionamentos sobre as emendas. Documentos oficiais não especificam quais parlamentares destinaram os valores. Contudo, em 2024, o deputado Lázaro Botelho (PP-TO) e a senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil-TO) enviaram R$ 1 milhão e R$ 500 mil, respectivamente, para iluminação em LED e pavimentação, mas os recursos não foram usados para os shows.

 

“Qual é o problema? Que erro teria? Uma vez que o prefeito não poderia usar esse dinheiro para mexer na infraestrutura da ponte”, justificou Dorinha, ao defender a destinação dos valores para eventos festivos.

 

 

Enquanto Aguiarnópolis bancava shows, Estreito, com 34 mil habitantes, focava em obras como um abatedouro de R$ 2,1 milhões e reformas em espaços públicos. O deputado Marreca Filho (PRD-MA) destinou R$ 700 mil para reestruturar uma área de lazer. Nenhuma dessas iniciativas, no entanto, incluiu manutenção da ponte, construída em 1958 e com última reforma entre 1998 e 2000.

 

Em 2020, um relatório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) já apontava danos severos na estrutura. Apesar disso, o órgão não pediu recursos para reparos. “Recebemos uma lista das rodovias para direcionamento orçamentário, e a ponte não constava nela”, explicou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

 

 

O economista Claudio Frischtak, especialista em infraestrutura, alertou para o baixo investimento público no setor. “Pontes não são eternas. Têm vida útil de 30 a 40 anos”, afirmou. Hoje, o Brasil investe 1,9% do PIB em infraestrutura, enquanto deveria aplicar ao menos 4,5% para atender às necessidades básicas da população.

 

A reconstrução da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira está orçada entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões, com previsão de conclusão em até um ano, segundo o Ministério dos Transportes.

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