Milicianos que dominam os bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, atacaram com rojões a casa de um morador da região que denunciou o grupo à polícia. Os ataques fazem parte de uma rotina de intimidação do grupo paramilitar para garantir o silêncio da população: a quadrilha também costumava enviar cartas com ameaças e também pichava as fachadas para marcar as casas dos “desafetos”.
Ao longo do segundo semestre de 2019, a casa de um morador foi alvo de ataques com rojões em quatro oportunidades, sempre de madrugada. Todos eles foram registrados por câmeras de segurança. As imagens, obtidas pelo EXTRA, mostram homens encapuzados saindo de carros e arremessando os explosivos, que medem cerca de 20 centímetros. Após o rojão ser jogado por cima do muro, é possível ver um clarão no momento da explosão. Em todos os ataques, o responsável fugiu correndo.
No último dia 9, 16 integrantes da milícia foram presos na Operação Ponto Firme, da Delegacia de Homicídios (DH) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio. Segundo a investigação, o grupo paramilitar também explorava a venda de drogas na região.
A casa que foi alvo dos ataques com rojões pertence a um policial civil que, cansado de observar a circulação de milicianos em motos sem placas na praça em frente ao imóvel, resolveu agir. Em 6 de julho de 2019, o agente saiu de casa e abordou um dos homens, identificado posteriormente como Gabriel da Silva Alves, o Biel, um dos gerentes do bando. O suspeito foi levado à 42ª DP (Recreio) e autuado por infração de trânsito.
Após a abordagem, começaram as ameaças. Primeiro, a casa do policial foi pichada com xingamentos e a sigla da maior facção criminosa do Rio. Depois, começaram os ataques com rojões.
— Os rojões eram, ao mesmo tempo, uma tentativa de nos intimidar e de nos atrair para fora de casa de madrugada. Se cedêssemos à provocação, eles nos matariam — conta a mulher do policial.
Saiba mais:
‘Narcomilícia’
Segundo uma reportagem da revista “Piauí”, no dia em que foi abordado, Biel afirmou a sua mãe, numa ligação interceptada com autorização da Justiça, que mataria o policial: “Tem que matar ele em uma semana, pode ficar tranquila”, disse o miliciano.
Biel não foi capturado no dia da operação e atualmente está foragido. Além dele, Caio Camilo Assis, o Canela, também não foi capturado. Informações que possam levar à prisão dos dois podem ser passadas ao Disque-Denúncia (2253-1177).
Segundo a investigação, o chefe da “narcomilícia” é o capitão PM Leonardo Magalhães Gomes da Silva, que se entregou à polícia um dia depois da operação. O oficial, além de comandar todas as ações do grupo, também era responsável por viabilizar o pagamento de propinas a outros PMs para evitar prisões dos integrantes do grupo. De acordo com a denúncia, seus comparsas se referiam a Leonardo, em ligações telefônicas, como “Bolsonaro”.
Do Agência O Globo | Em: 30/07/2020 às 09:36:35