Mal termina uma ligação para o deputado federal Zacharias Calil (DEM) – sobre a atuação e permanência do ministro Luiz Henrique Mandetta – e a notícia de que o titular do Ministério da Saúde pode ser exonerado pelo presidente Bolsonaro ainda nesta segunda-feira (6) ganha a mídia. O otimismo do médico goiano mudou de tom na segunda ligação, que precisou ser feita quase que em seguida. Ele, que acreditava no bom senso do gestor federal, se viu atordoado com a notícia.
“O caminho não é esse”, repetia sem disfarçar abatimento. A surpresa era grande. “Eu conheço os dois, o Osmar [Terra] e o Mandetta. Tenho amizade com os dois”, continuou ao relatar sobre o possível substituto do amigo pessoal, que, segundo ele, tem sido elogiado internacionalmente. “O doutor Osmar não está centrado nas normas da Organização Mundial de Saúde”, dizia.
Para ele, Jair Bolsonaro está provocando o mundo, dizendo que o novo coronavírus é uma coisa banal. “Quando começar a ter mortes no Brasil e não tiver onde colocar os corpos, ele terá um problema.” E antes que fosse indagado, ele perguntava retoricamente: “Você viu no Equador? Estão empilhando corpos.”
“Mas é possível que ele volte atrás?”, ele era questionado e respondia: “Não acho que volta. Vai criar uma crise no País. Vai ser vaiado. Pô, presidente, presta atenção”, emendou uma mensagem que ele queria Bolsonaro ouvisse. Para o deputado federal goiano, Mandetta não precisa desse trabalho. “Pode ir para onde quiser. Ele não precisa, é a população que precisa. E nós vamos ver a consequência disso”, se preocupou, mais uma vez.
A preocupação, ele diz, é porque não há material de proteção individual no Brasil e em Goiás. “Por isso o [governador] Caiado está segurando. Se tiver o colapso da saúde vai ser o caos. Não terá onde colocar as pessoas.”
Grupo
Segundo Zacharias, ele participa de um grupo só de deputados federais do DEM no WhatsApp e todos estão incrédulos. “Perguntam se é verdade, mas só sabemos pela mídia”, diz ele, que acredita, sim, na decisão de Jair Bolsonaro. “Mas e o [Rodrigo] Maia? O que ele falou?”, e ele respondeu: “Nada ainda.”
E voltou a criticar o presidente. “Ele está tomando medidas isoladas, sabe? Ele conversa uma coisa com você e dois minutos depois faz outra.” Essa fala tem relação com o primeiro contato, quando otimista havia dito que Bolsonaro não demitiria o ministro. “Ele conversou com o ex-deputado Braga, do meu partido, que ele respeita muito. Então recuou dessa ideia”, acreditava.
Apesar de acreditar na necessidade de alguma atitude do Congresso nos próximos dias, o médico não pensa em impeachment. “Eu não votaria um pedido de impeachment, pois seria uma tragédia, o País não suportaria.” Apesar disso, ele crê que, nesta semana, os pedidos protocolados farão frente aos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) – foram 37 até setembro de 2015.
Em Goiás
Mas se teme pelo País, Mandetta vê com bons olhos a possibilidade de Mandetta vir para Goiás, como deseja Ronaldo Caiado. “Logo no início do governo, ele já tinha sido convidado, antes de ser ministro. Mas tinha compromissos.” Sobre essa nova chance, caso se concretize, ele espera que confirme. “Mas ele deve ter muitos convites”, disse quando ainda acreditava que não haveria demissão na crise pandêmica.
Para Calil, ele tem conduzido esta crise sem defeitos na área de saúde. “Poucos possuem esse conhecimento técnico.” Segundo Zacharias, o discurso desencontrado de Bolsonaro com seu ministro sempre foi algo “horrível. Tem que aceitar e ter orgulho de um ministro do porte de Mandetta, de estar bem representado. Como do Moro (Justiça) e do Guedes (Economia)”.
Sobre Ismael Alexandrino, ele diz não ter contato. “Minha posição é de liberar emendas para Goiás, pela secretaria de Saúde. Mas a situação [dele] fica um pouco chata. Ele pode já ter perdido o estímulo de continuar [por conta do convite explícito].”
Do Mais Goiás | Em: 06/04/2020 às 17:03:01